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Ao fundo antiga Câmara de Vereadores de Mauá (acervo Museu Barão de Mauá) |
Orlando Lisboa de Almeida
Coluna Crônicas de Mauá e sua gente
Era por volta de 1967, 68 e nós estávamos no colegial no Viscondão. Na volta pra casa, todo mundo à pé, passada obrigatória ao menos pela porta do sagrado Bar ABC que ainda está firme e forte em Mauá-SP. O firme e forte fica por conta do saudosismo pois quem pode dizer isso de cadeira é quem frequenta a casa nos dias atuais e ninguém mais.
Sexta feira era quase certo um pit stop lá no Bar ABC para tomar uma cervejinha, jogar uma conversa fora e se divertir um bocadinho. E bar é bar, curva de rio onde passa e enrosca de tudo. Pois era comum até os nobres edis, os Vereadores da cidade, após as sessões da Câmara, que ficava numa sobreloja bem perto da porteira da estação e mais perto ainda do Bar ABC, fazerem uma paradinha estratégica por lá.
Conversa vai, conversa vem e de vez em quando a turminha se via misturada até com a prosa dos Vereadores. Gente simples, povo como o povo que botou os homens lá na vereança. Um belo dia ou melhor, uma bela noite, os vereadores disseram algo como: Vocês são estudantes, já tem conhecimento de muitas coisas, poderiam ir de vez em quando assistir a algumas sessões na Câmara. Será uma satisfação para nós da Casa.
Tinha lá até o Dito Loiola, mineiro, velho Vereador que me parece que era tio de um amigo nosso da família Putini. Chamavam-no de Dito Gaiola na surdina do boteco. Mas esse não frequentava o boteco, até porque era bem idoso e até brincavam de dizer que era quem mais fazia barulho na Câmara, ao cochilar e cair no chão... Era uma pessoa simples mas muito respeitado, muito íntegro.
Pois chegou uma noite que a turminha resolveu subir os trinta degraus da escadaria para assistir uma sessão. Um deles bate uma sineta solene, três na mesa, Presidente, acho que um vice e o secretário. – Declaro aberta a Sessão! E nós lá. O presidente saúda os presentes e pede ao secretário para ler a ordem do dia:
- Senhor Presidente, Senhores Vereadores, público presente. Recebemos aqui um ofício informando que faleceu o Dr. Fulano de Tal, cidadão de destaque no nosso município. O Presidente declarou em seguida: Em homenagem ao nobre cidadão Fulano de Tal, em sinal de luto oficial, declaro encerrada a Sessão. Bateu no sino e tchau!!!
Como diria o personagem Chicó: “Só sei que foi assim”.
Sessão II
Um dia, passado um bocadinho de tempo, voltamos à Câmara para novo banho de iniciação à cidadania, afinal todo jovem tem o ímpeto de fazer um mundo melhor. E achamos curioso que a sessão foi aberta e desta vez a coisa engrenou. Aberta a sessão, começaram as votações dos projetos da pauta. Coisas de pouca monta, tipo nomes de rua, remanejamento de verbas no orçamento do município e por aí afora. O curioso é que o rito era meio assim:
Projeto de lei número XXX referente alhos e bugalhos. Em discussão.... em votação.... (bate o martelo ou sino) .... aprovado.
E nós lá sem entender. Não vimos discussão, não vimos votação e só vimos a marretada final: Aprovado.
Depois fomos saber que os assuntos já tinham sido “exaustivamente” analisados, sopesados, destrinchados pelos vereadores e já havia acordo sobre os votos. E os votos eram sempre: Quem é à favor, permaneça como está (sentado) e quem for contra, favor se manifestar (ficar em pé). Todo mundo sentadinho, tudo aprovadinho sem afogadilho.
E assim começamos nossos primeiros passos rumo à cidadania. Temos que arregaçar as mangas e ir pra peleja pois escrevemos a história ou alguém está escrevendo por nós.
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