1985: Há 40 anos: como era a vida no Brasil

Quarenta anos atrás, o Brasil vivia um cotidiano muito diferente do que conhecemos hoje. Era um país em transformação, ainda deixando para trás a ditadura, descobrindo novos hábitos urbanos, criando modas, ídolos e maneiras próprias de viver.

1985: Há 40 anos: como era a vida no Brasil

Quarenta anos atrás, o Brasil vivia um cotidiano muito diferente do que conhecemos hoje. Era um país em transformação, ainda deixando para trás a ditadura, descobrindo novos hábitos urbanos, criando modas, ídolos e maneiras próprias de viver. Nas cidades brasileiras, a rotina tinha outro ritmo, outros sons e até outros cheiros — marcados pelo barulho dos ônibus velhos, das rádios FM e das ruas cheias de crianças brincando.

O ritmo das cidades

O trânsito ainda era menos caótico, embora já mostrasse sinais de crescimento acelerado. As cidades médias cresciam para todos os lados, e os bairros misturavam casas simples, comércios familiares e terrenos vazios. Crianças brincavam na rua até tarde; empinar pipas, jogar bola na calçada e andar de bicicleta eram parte do dia a dia.

Os centros urbanos eram o coração comercial: lojas de departamento, papelarias, bancas de jornal e os primeiros shoppings que começavam a surgir mudavam os hábitos de consumo. Ir “passear no centro” era um evento de fim de semana.

A música e a era das FMs

A trilha sonora da vida brasileira era dominada pelas rádios FM, que viviam sua época de ouro. O rock nacional ganhava força com bandas como Paralamas do Sucesso, Legião Urbana, Barão Vermelho, Titãs e Ultraje a Rigor. Era comum ver jovens andando com fitas cassete no bolso e tocadores “walkman” pendurados na cintura.

Fora do rock, outros estilos conviviam: sertanejo raiz, samba, MPB e o pop romântico que dominava programas de auditório na TV. As discotecas ainda eram lembradas, mas o país já começava a buscar novos sons e novos ídolos.

A moda que marcou uma geração

O vestuário dos anos 80 era ousado, colorido e cheio de personalidade. Ombreiras, calças baggy, jeans lavado, tênis branco, camisetas estampadas e jaquetas de couro eram febre. Cabelos com volume — muito volume — faziam parte da estética do período. A juventude vivia entre o visual “rocker” e o estilo inspirado nos clipes internacionais da MTV, que começava a influenciar o Brasil mesmo antes de chegar oficialmente ao país.

Televisão: o país parava para ver novela

A TV aberta era absoluta. A falta de internet, celulares e streaming fazia da televisão o centro da vida doméstica. Novelas como Roque Santeiro e programas de auditório reuniam famílias inteiras na sala. Jornal Nacional era referência de informação, e os filmes de domingo eram quase um ritual.

A publicidade da época, com jingles marcantes, também ajudava a criar memórias coletivas que até hoje muita gente canta sem perceber.

O carro do ano e o sonho de consumo

O “carro do ano” era um tema levado a sério pelos brasileiros. Modelos como Chevette, Opala, Fusca, Gol e Monza disputavam o imaginário popular. Ter um carro zero quilômetro era sinônimo de status e conquista. Ruas recheadas de carros quadrados, buzinas altas e poucos itens de segurança refletiam uma época em que dirigir era mais simples — e também mais arriscado.

Tecnologia no início de tudo

A tecnologia doméstica engatinhava: videocassete era novidade, videogames de 8 bits começavam a surgir nas casas, telefones ainda tinham fio e o computador pessoal era raridade, restrito a escritórios e escolas técnicas. Quem queria ver fotos revelava filmes em papel. Quem queria se comunicar escrevia cartas.

Política e redemocratização

Há quarenta anos, o Brasil vivia um dos períodos mais marcantes da sua história recente: a redemocratização. Depois de duas décadas de regime militar, o país respirava novos ares. As ruas se enchiam de comícios, movimentos sociais, faixas e o desejo coletivo por liberdade. O movimento Diretas Já mobilizou milhões de pessoas e transformou praças, avenidas e estádios em espaços de reivindicação política. Mesmo sem a aprovação imediata do voto direto, o espírito de mudança tomou conta do país. Tancredo Neves surgiu como símbolo de esperança, e sua morte, em 1985, deixou o Brasil atônito. José Sarney assumiu a presidência e iniciou a reorganização da vida democrática, em meio a expectativas, incertezas e grandes desafios econômicos.

Economia e inflação

A economia brasileira nos anos 80 era marcada por uma palavra que dominava o cotidiano: inflação. Os preços mudavam semanalmente, às vezes até diariamente. Ir ao supermercado era quase uma corrida contra o tempo — muitas famílias faziam compras no início do mês para “fugir” dos aumentos. Etiquetas remarcadas eram comuns, e produtos como carne, leite e arroz variavam de preço de forma imprevisível. A vida era feita de improvisos financeiros: cadernetas de poupança, financiamentos, prestações, vales e até fiados. Consumir exigia estratégia, paciência e muita atenção ao orçamento.

Consumo e novos produtos

Apesar das dificuldades econômicas, a década foi marcada pela chegada de novos produtos e tecnologias ao lar brasileiro. O videocassete começou a se popularizar, permitindo que famílias assistissem filmes em casa. O micro-ondas, ainda caro, era visto como símbolo de modernidade. Aparelhos de som “3 em 1”, com toca-fitas, rádio e vitrola, viraram objeto de desejo. As prateleiras dos mercados carregavam itens que hoje despertam nostalgia: leite em saquinho, manteiga Aviação, Guaraná Brahma, refrigerantes em garrafas de vidro retornáveis e embalagens com design simples, mas clássicas.

Alimentação e hábitos de cozinha

Na culinária, a vida era mais artesanal. Muitas casas ainda preparavam pães, bolos e doces no próprio fogão. As sobremesas eram simples: pudim de leite, manjar, gelatina colorida e arroz-doce. Nas prateleiras das mercearias, destacavam-se guloseimas que marcaram gerações: bolacha Mirabel, chocolate Lollo, as primeiras gomas Bubbaloo, bala Soft e o famoso chiclete Ploc. O almoço de domingo reunia famílias inteiras em volta da mesa, e a comida caseira era a estrela do cotidiano — macarronada, frango assado, maionese e suco preparado na hora.

Cinemas e cultura pop

O cinema brasileiro vivia a transição entre os antigos cinemas de rua e a chegada das primeiras salas dentro de shoppings. Assistir a um filme era uma experiência especial, marcada por filas enormes, cartazes pintados à mão e sessões lotadas. O mundo vivia a era dos blockbusters, e títulos como De Volta para o Futuro, Karate Kid, Os Caça-Fantasmas, Indiana Jones e E.T. lotavam salas no país inteiro. Nas videolocadoras, que começavam a surgir timidamente, encontrar uma fita rara era motivo de comemoração. Era o início de uma cultura pop globalizada que chegava ao Brasil com força total.

Esportes e ídolos

O esporte brasileiro atravessava uma fase de ouro. No futebol, ídolos como Zico, Sócrates, Júnior e Careca formavam uma geração inesquecível, mesmo sem um título mundial. A Seleção Brasileira pós-1982 era admirada pelo estilo ofensivo e elegante. Nas ruas, crianças e jovens jogavam bola em qualquer espaço disponível. Na Fórmula 1, Nelson Piquet era o grande nome — e começava a dividir as atenções com um jovem promissor chamado Ayrton Senna. O vôlei vivia sua ascensão, com a “Geração de Prata”, e o basquete brasileiro também ganhava visibilidade internacional.

Brincadeiras e lazer das crianças

O lazer infantil era predominantemente ao ar livre. As ruas eram extensão da casa. Bolinha de gude, pipa, carrinho de rolimã, elástico, esconderijo, queimada e futebol de rua eram atividades diárias. Albuns de figurinhas e brinquedos simples — como bonecos Falcon, carrinhos de metal, autoramas e jogos de tabuleiro — faziam parte da infância. Os videogames começavam a aparecer, mas ainda eram raros. Quem possuía um Atari, Odyssey ou o recém-chegado Phantom System rapidamente virava ídolo da vizinhança.

Comunicação

Comunicar-se era totalmente diferente. O telefone fixo era caro, difícil de instalar e muitas vezes compartilhado entre vizinhos. A lista telefônica era item obrigatório em casa. Cartas eram enviadas para parentes distantes, e cartões-postais eram lembrancinhas comuns de viagens. A TV aberta tinha um poder enorme: ditava moda, comportamento e gerava conversas para a semana inteira. O rádio continuava forte, especialmente no carro, nos ônibus e nos ambientes de trabalho. 

Saúde e estilo de vida

A preocupação com saúde era mais prática e menos orientada por informação científica como hoje. Academias eram poucas, geralmente voltadas para musculação básica. A maioria das pessoas se exercitava caminhando, andando de bicicleta ou jogando futebol. Dietas, suplementos e produtos fitness eram raros. A vida era menos sedentária por natureza: mais escadas, mais caminhadas e mais atividades ao ar livre eram parte do dia a dia.

 Ambiente urbano

As cidades brasileiras eram muito diferentes. Havia menos prédios, mais casas e mais áreas verdes. Terrenos vazios eram comuns e se transformavam facilmente em campos improvisados de futebol. O trânsito era menor, mas também menos regulamentado. A poluição visual era reduzida, com menos anúncios luminosos e fachadas simples. As cidades cresciam rapidamente, mas ainda guardavam espaços de convivência comunitária que se perderam com o tempo.

Um Brasil que mudou — e marcou

A vida no Brasil há 40 anos era feita de simplicidade, criatividade e convivência presencial. As pessoas passavam mais tempo nas ruas, nos clubes, nas calçadas. O país enfrentava crises econômicas, inflação e desafios diários, mas também vivia um momento forte de cultura, música, esperança e transformação.

Relembrar esse período é revisitar um Brasil que não existe mais, mas que permanece vivo na memória de quem viveu a juventude, a infância ou a vida adulta naquele tempo — um tempo de descobertas, sons inesquecíveis e histórias que ajudaram a moldar o país que conhecemos hoje.

Apoie o Mauá Memória

Sua colaboração nos ajuda a manter viva a história de Mauá

💳 Contribua via PIX
R$

Deixe 0,00 para gerar um código com valor em aberto