O “Bombardeio de Mauá” em 1932: história oral de um episódio pouco documentado

Mesmo sem documentação formal, a história oral é uma ferramenta valiosa para compreender o passado de uma cidade. Ela preserva memórias de quem viveu os fatos ou ouviu de pessoas próximas, formando um mosaico afetivo que complementa (e às vezes preenche) as lacunas dos registros oficiais. O "bombardeio de Mauá" é um exemplo claro disso: um episódio que talvez tenha sido mais psicológico do que destrutivo, mas que deixou marcas profundas na memória coletiva da cidade.

O “Bombardeio de Mauá” em 1932: história oral de um episódio pouco documentado

Entre os muitos acontecimentos que compõem a memória de Mauá, um dos mais curiosos e pouco conhecidos oficialmente é o chamado “bombardeio de Mauá” durante a Revolução Constitucionalista de 1932. Esse episódio, embora não tenha registros oficiais robustos, vive nas lembranças dos antigos moradores da cidade e se mantém vivo como parte importante da história oral mauaense.

O que foi a Revolução Constitucionalista?

A Revolução Constitucionalista foi um levante armado iniciado em São Paulo contra o governo provisório de Getúlio Vargas. O objetivo era exigir uma nova Constituição e recuperar a autonomia política perdida com a Revolução de 1930. Durante o conflito, o estado de São Paulo se tornou palco de confrontos entre tropas paulistas e forças federais.

Mauá no meio do caminho

Na época ainda chamada de Pilar, a região de Mauá era um ponto estratégico por abrigar a Estação Pilar da São Paulo Railway, além de indústrias e depósitos, como o famoso moinho de sal das Indústrias Matarazzo. Esses elementos tornavam a cidade um ponto sensível do ponto de vista logístico e militar.

É nesse contexto que surge o relato do chamado “bombardeio de Mauá”.

O relato que vive na memória

Segundo Armando Scilla, membro da antiga Comissão Memória de Mauá e ex-funcionário do moinho da Matarazzo, caminhões do Exército apareceram na cidade em 1932 com o objetivo oficial de recolher o estoque de arame farpado, que seria usado nas trincheiras paulistas. Porém, um boato se espalhou entre os trabalhadores da fábrica: os militares estariam ali para recrutar à força os jovens operários para o front.

O pânico se instaurou. Funcionários fugiram em massa para as matas próximas, e a cidade ficou praticamente deserta por um dia inteiro.

Em paralelo a esse relato, moradores antigos falam de disparos ou ataques simbólicos na região da estação, tidos como tentativas de intimidar ou desmobilizar resistência. Embora não existam registros oficiais em jornais da época ou arquivos militares que confirmem tais bombardeios, o episódio sobrevive através das narrativas orais transmitidas por gerações.

História oral: uma fonte rica e legítima

Mesmo sem documentação formal, a história oral é uma ferramenta valiosa para compreender o passado de uma cidade. Ela preserva memórias de quem viveu os fatos ou ouviu de pessoas próximas, formando um mosaico afetivo que complementa (e às vezes preenche) as lacunas dos registros oficiais.

O "bombardeio de Mauá" é um exemplo claro disso: um episódio que talvez tenha sido mais psicológico do que destrutivo, mas que deixou marcas profundas na memória coletiva da cidade.

Conclusão

A história de Mauá não se escreve apenas com documentos em cartórios ou jornais de época. Ela também é feita de lembranças, medos e relatos passados de pai para filho. O “bombardeio de Mauá” pode não estar nos livros oficiais, mas vive firme nas palavras de quem esteve lá — e por isso merece ser lembrado.

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