O sobrado que viu um bairro nascer: memórias vivas da Vila Assis Brasil
Com suas pastas abarrotadas de contratos e recibos, muitos imaginavam que ela fosse professora. Mas o que Mariazinha realmente fazia era abrir caminhos — não apenas no papel, mas para a história de uma futura cidade.
Quem passa apressado pela Avenida Dom José Gaspar talvez nem repare. Mas quem olha com calma para o número 934 percebe algo diferente: uma casa antiga, com alma de fazenda e silêncio de quem guarda histórias. Ali, entre paredes grossas e terreno amplo, nasceu a Vila Assis Brasil — e uma parte importante da identidade de Mauá.
A construção, erguida nas primeiras décadas do século XX, já foi sede de loteamento, casa de família e testemunha da chegada de centenas de pessoas em busca do próprio pedaço de terra. Hoje, é o lar de Maria Dorotii Lorenzo, a Mariazinha, que aos 99 anos continua sendo guardiã de memórias que poucos conheceram tão de perto.
Mariazinha: a jovem da pasta pesada que virou parte da história
Nascida em 1925, na capital paulista, Mariazinha começou a trabalhar em 1942 na Sociedade Auxiliadora Predial Ltda., empresa responsável pelo loteamento que, anos depois, se transformaria na Vila Assis Brasil. Todos os domingos, ela e outros funcionários pegavam o trem rumo a Mauá. Da estação, seguiam de charrete até a sede do loteamento.
Com suas pastas abarrotadas de contratos e recibos, muitos imaginavam que ela fosse professora. Mas o que Mariazinha realmente fazia era abrir caminhos — não apenas no papel, mas para a história de uma futura cidade.
Quatro grandes lembranças de quem viu tudo acontecer
Em seu depoimento, ela destaca episódios marcantes, quase como cenas de um filme:
1. O brilho de esperança nos olhos
Os compradores chegavam de trem, recebidos por Américo Piagentini. Seguiam a pé ou de charrete para conhecer os lotes. Havia um ar de sonho no ar: o desejo de construir uma vida nova ali.
2. A vila dos trabalhadores
Atrás da sede, uma pequena vila abrigava os trabalhadores braçais — homens que abriram ruas, picadas, caminhos e plantaram as primeiras árvores. Entre os moradores, famílias como os Trota e Vitor Lemman.
3. A água da biquinha
Na atual rua Marcelo Marcolino, havia uma nascente cuja água era tão pura que o Instituto Adolpho Lutz confirmou: era potável. A biquinha abastecia moradores e era ponto de encontro.
4. As visitas ilustres
Mariazinha recorda encontros com figuras marcantes, como Dom José Gaspar, Emeric Marcier, padre Eduardo Roberto Batista e o pintor Lasar Segall. A movimentação era intensa — havia arte, política e fé circulando por aqueles corredores de terra batida.
Um loteamento, um telegrama e um bairro inteiro
Entre seus documentos guardados com cuidado, uma relíquia chama atenção: a certidão de 21 de junho de 1927 que registra a venda de 50 alqueires para a Sociedade Auxiliadora Predial Ltda., comprados por Clodoaldo Portugal Caribé e seus sócios. Tudo por 250 contos de réis — valor monumental para a época.
A área, de cerca de 1,2 milhão de metros quadrados, ficava no então distrito de Santo André, município de São Bernardo. Hoje, abriga a Vila Assis Brasil e o Jardim Anchieta.
Outro tesouro guardado por Mariazinha é o telegrama enviado pelo general gaúcho Assis Brasil, em 25 de abril de 1927, agradecendo a homenagem de ter seu nome associado ao novo loteamento. Um gesto simples, mas simbólico, que atravessou o tempo.
Quando a paisagem revela a história
A casa da Avenida Dom José Gaspar não é apenas um imóvel antigo — é um farol para quem deseja entender como Mauá se tornou o que é hoje. Cada canto guarda uma trajetória: a urbanização que chegou aos poucos, as famílias que compraram seus primeiros terrenos, os trabalhadores que moldaram as ruas que hoje percorremos.
E, no centro de tudo isso, está Mariazinha, testemunha e memória viva da cidade.
Enquanto aquele sobrado continuar de pé, Mauá seguirá lembrando onde tudo começou.
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