Moinho de Sal do Matarazzo: um marco na história industrial de Mauá

O próprio conde Matarazzo visitava a fábrica com frequência, a cada 20 ou 30 dias. Segundo Armando Scilla, ele era uma figura simples e acessível, que gostava de conversar com os operários. Durante suas visitas, fazia questão de ir até o porão onde funcionava a máquina de moagem, mesmo saindo coberto de poeira branca do sal.

Moinho de Sal do Matarazzo: um marco na história industrial de Mauá

Pouca gente sabe, mas bem em frente ao terreno onde hoje está o Paço Municipal de Mauá funcionou um importante símbolo da industrialização da cidade: o Moinho de Sal do Matarazzo. Ele substituiu a antiga moagem de trigo Norza e Rosazza e iniciou suas atividades por volta de 1906, segundo relatos de Armando Scilla, membro da Comissão Memória de Mauá.

Localizado na avenida Capitão João, o empreendimento fazia parte do império industrial da família Matarazzo. Além do sal, o local também armazenava produtos como arame farpado, breu, cimento e soda cáustica — todos importados, como lembrava Armando. A gerência do moinho foi assumida por Pedro Scilla, imigrante italiano que chegou a Pilar (como era chamada Mauá na época) e acabou permanecendo na função por muitos anos, apesar da intenção inicial de ser temporário.

Pedro não foi o único da família a se envolver com a Matarazzo. Seu filho Armando também trabalhou no moinho entre 1930 e 1936. Outro nome importante ligado à empresa é o de Tomaz Antico, que teve sua primeira experiência profissional na cidade como guarda-livros da Matarazzo.

Um dos feitos mais importantes do moinho foi contribuir para a chegada da energia elétrica a Mauá. Por volta de 1915 ou 1916, a fábrica foi a primeira a receber eletricidade, o que beneficiou também 15 casas construídas pela empresa para seus trabalhadores. Essas residências eram ocupadas por famílias como as dos Pina, Ferraz, Bizutti e Rossi, entre outras. A própria família Scilla morava ali perto, em uma casa separada das demais.

A primeira linha elétrica veio de Santo André, passando por propriedades da família de dona Mariquinha (Maria de Queiroz Pedroso). Somente cerca de dez anos depois, já nos anos 1920, foi instalada a linha definitiva pela avenida Capitão João, marcando a transição de Pilar para a Mauá que conhecemos hoje.

O próprio conde Matarazzo visitava a fábrica com frequência, a cada 20 ou 30 dias. Segundo Armando Scilla, ele era uma figura simples e acessível, que gostava de conversar com os operários. Durante suas visitas, fazia questão de ir até o porão onde funcionava a máquina de moagem, mesmo saindo coberto de poeira branca do sal.

Em 1932, durante a Revolução Constitucionalista, um episódio curioso marcou a história do moinho. Caminhões do Exército chegaram para levar o estoque de arame farpado, que seria usado nas trincheiras. Porém, rapidamente espalhou-se o boato de que os soldados estavam ali para recrutar jovens trabalhadores à força. O pânico foi geral: operários abandonaram a fábrica e correram para as matas ao redor. A cidade ficou praticamente deserta por um dia, até que os caminhões partiram levando apenas o material.

O moinho de sal do Matarazzo encerrou suas atividades no final da década de 1930, mas deixou um legado importante na memória industrial de Mauá. Foi símbolo de progresso, pioneirismo e também cenário de histórias curiosas que ajudam a contar a trajetória da cidade.

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