Conto: A Loira do Banheiro da Escola Viscondão
Eliana, da 7ª série, contou que tudo começou quando, ao entrar no banheiro do bloco B, ouviu uma descarga sozinha. Ao se aproximar do espelho, viu um vulto loiro passando atrás dela — mas quando se virou, não havia ninguém.

Ano de 1976. Mauá crescia a olhos vistos. A Vila Noêmia fervilhava com os comércios novos, o asfalto começava a cobrir antigas ruas de barro, e a Escola Vinscondão, na região central, se orgulhava de seu novo prédio, com banheiros azulejados e pátios amplos. Mas nenhum progresso parecia espantar o medo antigo que rondava os corredores.
Foi naquele ano que começaram a falar da Loira do Banheiro.
Um espelho e três descargas
Maristela, aluna da sexta série, foi a primeira a dizer que viu. Disse que ao entrar no banheiro do fundo, notou que o espelho estava completamente embaçado, mesmo sem ninguém ter tomado banho ali. Quando se aproximou, ouviu o som de três descargas puxadas ao mesmo tempo — mas as portas das cabines estavam todas abertas.
Na semana seguinte, Carlos Davi, do oitavo ano, jurou ter escutado um choro fino vindo do ralo. Achou que era trote, até que a luz piscar três vezes, e ele viu, pelo reflexo do espelho, uma mulher de cabelos compridos, loira, com o rosto manchado por cortes. Quando se virou, não havia ninguém. Mas o espelho tinha uma marca de mão vermelha.
A lenda que se espalha
Os professores diziam que era coisa de criança. Mas os mais antigos cochichavam: “Essas escolas foram construídas onde antes era mata e olaria antiga… onde tinha lenha, barro e fogo, tem alma que fica”.
Dona maria, servente da escola há anos, contou a alguns alunos que certa vez viu cabelos no chão do banheiro masculino, longos e loiros, que sumiram quando ela voltou com a vassoura. Depois disso, ninguém mais quis ficar para a aula da tarde sozinho.
A verdade enterrada?
Na biblioteca havia um livro de registro da época da fundação da escola. Lá, anotado em caligrafia antiga, havia a história de uma jovem chamada Tereza Valença, que teria morrido aos 17 anos, vítima de uma queda no antigo banheiro da escola ainda em construção. A água da caixa d’água estava contaminada, disseram. Mas a lenda virou outra: que ela havia sido empurrada, que gritava por socorro, e que a alma dela nunca saiu de lá.
Dizem que quem entra no banheiro às 11h11 e fala o nome dela três vezes no espelho… não volta igual.
Maristela nunca mais falou do assunto. Carlos Davi transferiu-se de escola. E Dona Maria se aposentou antes do fim do ano letivo.
Mas os corredores ainda têm ecos.
E às vezes, quando tudo está silencioso, alguém escuta uma descarga soando sozinha.
Qual é a sua reação?






