Conto: O Homem do Saco da estação Mauá

Dona Etelvina dizia que ele só levava criança desobediente, daquelas que não rezavam ou fugiam da catequese. Mas havia também quem jurasse ter visto um homem alto, magro, com chapéu velho e um saco de aniagem nas costas, perambulando entre os trilhos e a olaria.

Conto: O Homem do Saco da estação Mauá

Na Mauá dos anos 1930, ainda chamada de estação Mauá, quando as ruas eram de terra batida e a iluminação pública mal passava de lampiões pendurados nas varandas, o medo tinha nome: Homem do Saco.

As mães falavam dele para assustar os filhos teimosos, os professores sussurravam sua história quando alguém faltava às aulas da escolinha improvisada atrás da capela. Mas, para Joaquim, Dona Etelvina e o pequeno Zé Russo, o Homem do Saco não era apenas uma lenda — era uma presença real.

A noite da travessa do Corumbê

Joaquim era oleiro na Fábrica Grande e morava com a mãe, Dona Etelvina, numa casinha simples na travessa do Corumbê. À noite, os sons que vinham do mato assustavam: o barulho dos porcos soltos, o assobio do trem da São Paulo Railway e, às vezes, o arrastar de um saco pesado pela estrada de terra.

Dona Etelvina dizia que ele só levava criança desobediente, daquelas que não rezavam ou fugiam da catequese. Mas havia também quem jurasse ter visto um homem alto, magro, com chapéu velho e um saco de aniagem nas costas, perambulando entre os trilhos e a olaria.

O desaparecimento de Zé Russo

Zé Russo era o menino mais sapeca da turma. Filho de ferroviário, passava o dia pulando entre os vagões estacionados e roubando frutas do pomar da viúva Fiorella. Certa noite, após uma brincadeira de esconde-esconde atrás da fábrica, Zé sumiu. Não voltou pra casa. O saco dele — aquele que levava para buscar lenha — foi encontrado rasgado perto do riacho.

Dona Etelvina olhou para Joaquim com os olhos arregalados e disse:

— Te falei, meu filho... o Homem do Saco voltou.

A lenda que se arrasta

Depois disso, Pilar mudou. As crianças passaram a voltar cedo da escola. O sino da capela tocava mais forte ao cair da tarde. Alguns diziam que o tal homem era um andarilho, um forasteiro que comia o que achava no lixo e se escondia na mata. Outros achavam que era um espírito das antigas olarias, condenado a levar as crianças que não respeitavam os mais velhos.

Mas Joaquim sabia. Sabia porque, em uma madrugada de neblina espessa, ouvira — bem de perto — o som abafado de um choro vindo de dentro de um saco, seguido por passos arrastados indo em direção aos trilhos.

Nunca contou a ninguém.

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