1991: A Febre do Fliperama em Mauá

Na Galeria do Centro, havia dois outros fliperamas menores. Um deles tinha uma cabine do Double Dragon e uma das poucas máquinas funcionando de Final Fight com o botão de “continue” zoado — o que tornava o desafio ainda maior. Era onde a gente ia quando queria jogar sem a galera mais velha zoando.

1991: A Febre do Fliperama em Mauá

Em 1991 eu tinha 13 anos e minha vida era dividida em duas partes: a escola e o fliperama.
Na escola, eu fingia prestar atenção. No fliperama, eu vivia.

Em Mauá, naquela época, tinha mais fliperama do que farmácia. O mais famoso era o Fly, bem no centro da cidade, em frente à Casas Bahia. Uma caverna mágica cheia de luzes piscando, barulho de moedas caindo e músicas de vitórias digitais. Era o templo dos nossos dias.

O Rei do Street Fighter

Foi ali que eu vi pela primeira vez um garoto zerar o Street Fighter II com o Ryu sem levar um golpe. A gente chamava ele de Rodriguinho Shoryuken, porque ninguém — e eu digo ninguém — conseguia escapar do golpe giratório dele.

Na Galeria do Centro, havia dois outros fliperamas menores. Um deles tinha uma cabine do Double Dragon e uma das poucas máquinas funcionando de Final Fight com o botão de “continue” zoado — o que tornava o desafio ainda maior. Era onde a gente ia quando queria jogar sem a galera mais velha zoando.

Barão de Mauá e os duelos noturnos

Na Avenida Barão de Mauá, perto da Praça do Relógio, tinha outro fliperama mais escuro, com as paredes pichadas e cheiro de cigarro no ar. Era mais “adulto”, mas também mais perigoso. Foi lá que vi meu primeiro duelo entre dois "viciados" de Mortal Kombat — aquele arcade recém-chegado que fazia os olhos brilharem e os pais surtarem.
Finish Him!” ecoava alto, e os moleques gritavam como se fosse gol em final de Copa.

Capitão João e a turma da bike

Na Avenida Capitão João, o fliperama era menor, mas tinha um diferencial: rodava jogos raros, como Cadillacs and Dinosaurs, e um Tetris de tela amarela, onde a molecada da turma da bike apostava refri e fichas. Quem perdesse, pagava uma Fanta Laranja (pra quem conseguia comprar) ou um refrigerante Tubaína quente.

Praça da Paineira: o templo da zoeira

E claro, tinha a lendária locadora da Praça da Paineira, onde a gente jogava 1942Art of Fighting, sem saber direito o que estava fazendo, mas vibrando como se fosse uma guerra de verdade. Era o point das manhãs de sábado.
Ali, meu amigo Beto Cartucho ganhou o apelido porque sempre aparecia com uma fita diferente de Mega Drive debaixo do braço — mas vivia no fliperama, porque em casa o videogame dele estava “com o pino do controle quebrado”. A gente sabia que era desculpa.

O fim da tarde e a ficha no bolso

Eu chegava em casa com os dedos duros e os ouvidos zumbindo. Minha mãe perguntava:
— Você só foi na padaria?
— Fui sim, mãe.
(A ficha escondida na meia me denunciava.)

E assim foi 1991 em Mauá.
Entre Sonic, Fatal Fury, Golden Axe, Altered Beast no Mega Drive, e moedas de 25 centavos riscadas com estilete pra enganar a máquina.
Foi o tempo em que a cidade era um campo de batalha eletrônico e nós, heróis de camiseta regata e chinelo Rider, enfrentávamos monstros digitais com os dedos e com o coração.

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