Os últimos cortadores de pedra

Anísio Valério da Silva, nascido em 24 de dezembro de 1924, em Alagoas, prepara na forja ferramentas para os canteiros desde os seus dez anos de idade. Em 1946, decide vir para Mauá. Relembra, com emoção, a sua participação na edificação do cruzeiro, na atual Vila Independência, no Itapark.

Os últimos cortadores de pedra

Texto por William Puntschart

A construção da memória de nossa cidade desperta importantes reflexões. Por exemplo, as observações contidas nos depoimentos de José Maria de Gusmão e Anísio Valério da Silva, ex-canteiros, também chamados escarpelinos, trabalhadores dedicados à arte de cortar pedras.

Nascido em 30 de julho de 1925, José Maria de Gusmão já cortava pedras em Alagoas antes de se transferir para Mauá, em 1947. Recorda de sua participação nas seguintes obras: calçamento de Maceió, confecção da pedra de inauguração da fábrica da Mercedes-Benz, em São Bernardo, e o corte de pedras para o interior da Catedral da Sé.

Em Mauá, José Maria foi trabalhar na pedreira dos Irmãos Milanesi, na então Chácara dos Padres, em terras da Cúria Metropolitana de São Paulo. Ali morava e cortava pedra com vários canteiros, entre os quais, Fernando Zanella, mais tarde eleito vereador, e Ennio Brancalion, primeiro prefeito eleito em Mauá.

A jornada de trabalho era de oito horas diárias, com intervalo de uma hora para o almoço. O salário era calculado pela produção, cerca de 2.500 paralelepípedos/mês.

Em seguida, José Maria empregou-se na pedreira dos Ferrari, no atual Parque Ecológico de Santa Luzia, arrendado por Ângelin Agnello. O cálculo do salário era feito por milheiro de paralelepípedo confeccionado. No fim da década de 50, foi trabalhar na pedreira de Miroslav Kalis, no atual Itapark, juntamente com Rafael Camioli, Armando Cirillo, Octácio Francisco da Silva e os irmãos Pacola, entre outros canteiros. Os artigos produzidos, paralelepípedos e guias, eram enviados, principalmente, para São Paulo e cidades da região.

Anísio Valério da Silva, nascido em 24 de dezembro de 1924, em Alagoas, prepara na forja ferramentas para os canteiros desde os seus dez anos de idade. Em 1946, decide vir para Mauá. Relembra, com emoção, a sua participação na edificação do cruzeiro, na atual Vila Independência, no Itapark.

De acordo com o seu depoimento, a edificação do cruzeiro, em homenagem ao Sagrado Coração de Jesus, contou com a colaboração de toda a comunidade. Milton Tavares da Silva, ex-canteiro e dono de olarias, além de doar o terreno, esculpiu o monumento. Miroslav Kalis deu as pedras, Cícero Campos Póvoa doou areia, cal e cimento e Élio del Piere forneceu 400 tijolos.

Na inauguração, em 6 de outubro de 1959, compareceram personalidades políticas e religiosas. A organização do evento ficou a cargo de Geraldo Rosa da Silva, antigo morador local e um dos principais defensores desse importante patrimônio histórico-cultural de nossa cidade.

Em Mauá, Anísio foi titular na Pedreirinha, no atual Jardim Silvia, administrada por Lourival de Almeida, considerado, na época, “bom patrão” pelo fato de registrar os empregados. Sua tarefa diária era produzir cerca de oito metros de guia/dia. Entre as mais antigas pedreiras, recorda a pedreira de Raphael Pellegrini, em funcionamento desde 1910 numa área de cerca de nove alqueires, onde, hoje, se estalou o núcleo habitacional do Kennedy perto da Escola Municipal Cora Coralina. Por sinal, essa pedreira é o berço geológico cuja nascente resiste no interior daquelas moradas e desliza em direção ao Tamanduateí.

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