As Pedreiras de Mauá: História, Trabalho e a Preservação da Gruta Santa Luzia

A Gruta Santa Luzia, que pertenceu à família Ferrari, sempre foi considerada um local especial. O velho Ferrari, atento ao valor natural e espiritual da gruta, proibiu que suas pedras fossem cortadas para produção de calçamento. Graças a essa decisão, o local permanece preservado até hoje.

As Pedreiras de Mauá: História, Trabalho e a Preservação da Gruta Santa Luzia

Na região onde hoje ficam os bairros Itapeva, São João e Itapark, Mauá abrigou importantes pedreiras que marcaram profundamente a formação da cidade. Ainda hoje, é possível encontrar vestígios dessas histórias nas grandes rochas expostas e, especialmente, na Gruta Santa Luzia, um dos recantos naturais mais simbólicos e preservados do município.

Entre o final da década de 1910 e o início de 1920, diversas pedreiras estavam em plena atividade. Entre elas, destacavam-se:

  • Pedreira de Rafael Camioli

  • Pedreiras de Domingos Fiorellini, Miguel Cascardi, Ernesto Forte, família Matroni, Miguel Agnelo e Francisco Del’Dono (Santa Cruz)

  • Pedreira dos irmãos Silvio, Angelin e Mario Milanesi

  • Pedreira de Jacinto Fiorellini

Os irmãos Victorino e Nicola Dell’Antonia fundaram a famosa Pedreira Santa Luzia, que mais tarde se transformaria na Gino Pinotti & Cia. Ltda. Para transportar a produção de pedras, os Dell’Antonia construíram trilhos que ligavam as pedreiras diretamente ao pátio da estação ferroviária, passando pelos atuais trechos da Estrada do Itapark e da Rua Rio Branco. Duas locomotivas — uma delas chamada Izabel — puxavam vários vagões carregados de paralelepípedos, essenciais para o calçamento das ruas de São Paulo, que se urbanizava rapidamente.

A Avenida Barão de Mauá, hoje um dos principais corredores viários, era conhecida como Estrada das Pedreiras, pois ligava os ramais ferroviários vindos das áreas de extração do Itapark Velho e do Jardim Mauá.

A Gruta Santa Luzia e a Proteção dos Trabalhadores

A Gruta Santa Luzia, que pertenceu à família Ferrari, sempre foi considerada um local especial. O velho Ferrari, atento ao valor natural e espiritual da gruta, proibiu que suas pedras fossem cortadas para produção de calçamento. Graças a essa decisão, o local permanece preservado até hoje.

Foi ali que surgiu uma devoção muito forte à Santa Luzia, protetora dos olhos, já que acidentes com fragmentos de pedra eram frequentes entre os escarpelinos, trabalhadores especializados no corte das rochas. A imagem da santa foi colocada dentro da gruta, tornando-se ponto de fé, descanso e resistência — inclusive durante períodos de greves no final da década de 1920 e começo de 1930, quando grupos de trabalhadores se escondiam ali para escapar da repressão, recebendo alimentos trazidos por aliados.

O Trabalho nas Pedreiras

O ofício era duro, totalmente manual e exigia habilidade. Todo bloco de rocha tinha suas veias naturais — chamadas trincante, segundo e corrida — e era preciso conhecer bem a pedra para transformá-la em paralelepípedos. Os italianos e seus descendentes marcaram profundamente essa fase, com trabalho disciplinado, comunidade unida e organização trabalhista, chegando a ser profissionais altamente valorizados na região.

Famílias como Agnelo, Brancalion, Zanella, Musetti, Fortini, Fonte e Grecco deixaram sua história nessa atividade. A família Grecco, por exemplo, trabalhou nas pedreiras até meados da década de 1950, quando, pouco a pouco, a atividade começou a desaparecer com a redução da mão de obra e da extração de pedras.

O Fim das Pedreiras e a Memória do Trabalho

As pedreiras foram sendo desativadas ao longo das décadas, e por volta de meados dos anos 1960, a atividade praticamente chegou ao fim. O que permanece é a memória de um trabalho árduo, de uma comunidade de imigrantes italianos que ajudou a construir as bases urbanas da região, e de um patrimônio natural preservado: a Gruta Santa Luzia, nascente do Rio Tamanduateí, que atravessa Mauá, Santo André, São Caetano e São Paulo até desaguar no Rio Tietê.

Hoje, lembrar das pedreiras é reconhecer parte essencial da história cultural de Mauá, da formação de seus bairros e da força de seu povo.

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