Revelado! O Mapa Perdido das Olarias de Mauá — A Verdadeira Origem dos Tijolos Paulistas

Você sabia que o chão de Mauá esconde o passado que construiu São Paulo? Antes dos prédios e das avenidas, a cidade era tomada por chaminés fumegantes e fornos que moldaram o futuro no barro. Descubra a lista completa das olarias esquecidas de Mauá e o incrível trabalho dos homens que ergueram uma cidade tijolo por tijolo — e quase foram apagados da história.

Revelado! O Mapa Perdido das Olarias de Mauá — A Verdadeira Origem dos Tijolos Paulistas

Durante décadas, antes de o nome Mauá se associar à indústria metalúrgica e à expansão urbana do ABC paulista, o que sustentava a economia local era o barro. Literalmente. No chão vermelho e fértil das várzeas mauaenses nasceu uma tradição silenciosa, marcada pelo calor dos fornos e pela força dos trabalhadores: as olarias.

Essas antigas fábricas de tijolos e telhas foram responsáveis por moldar boa parte da paisagem paulistana do século XX. Casas, escolas, igrejas e até indústrias que se ergueram em São Paulo e nas cidades vizinhas carregam, em suas paredes, o trabalho anônimo de homens e mulheres que moldavam o barro às margens dos rios Tamanduateí e Oratório, no coração de Mauá.

Hoje, esse pedaço da história está sendo resgatado e documentado por meio de uma pesquisa coordenada pelo historiador e pesquisador Alex Ferreira, criador do projeto Mauá Memória. A iniciativa busca catalogar todas as olarias que existiram na cidade, com base em documentos, relatos e vestígios físicos — muitos deles encontrados em terrenos onde o tempo apagou as chaminés e os fornos.

“Essa pesquisa é mais do que um levantamento técnico. É uma homenagem aos trabalhadores que ajudaram a construir o Grande ABC e a própria capital. Cada tijolo tem uma história por trás”, explica Alex Ferreira.

 Um patrimônio quase esquecido

A história das olarias de Mauá começa muito antes da emancipação política do município. Registros apontam que, ainda no século XIX, o barro da região já era utilizado na produção de tijolos e cerâmica. Um dos nomes mais antigos identificados é o de Sistílio Benevento Lotto, cuja olaria, localizada na atual Estrada do Corumbé (bairro Zaíra), já produzia tijolos antes de 1850 — o que faz dela uma das mais antigas de todo o ABC Paulista.

Na virada para o século XX, novas olarias surgiram, acompanhando o avanço das estradas e o crescimento populacional. A Olaria de Luiz Merloni, fundada por volta de 1910, funcionava no centro de Mauá, na área onde hoje está a Praça Teotônio Vilela. Foi lá que, décadas depois, seria instalado o Grupo Escolar Barão de Mauá — símbolo de um tempo em que o barro e a educação se encontravam no mesmo endereço.

Outros nomes pioneiros, como Dell’Antonia, João Batista, Argemiro Guolo e José Batista Dell’s Antonia, também aparecem em registros históricos, alguns datando de 1910 a 1920, indicando uma verdadeira rede de pequenos produtores de cerâmica que abasteciam tanto Mauá quanto as cidades vizinhas de Santo André e Ribeirão Pires.

A era de ouro: os anos 1950

Na década de 1950, Mauá viveu seu auge como polo ceramista. O Anuário de 1956, do pesquisador Paulo Zingg, listava várias olarias em plena atividade na cidade, consolidando-a como um dos centros de produção de tijolos mais importantes da região.

Entre as mais conhecidas estavam:

  • Antonio Damo, na Vila Assis Brasil;

  • Américo Segundo Bagnara, na Estrada da Pedreira;

  • Alexandre Esposti, na Estrada da Adutora Rio Claro;

  • Domingos Braga e Ângelo Cordeiro, no Sítio João Domingos dos Passos;

  • Francisco Hernandes, no bairro Taquarussú (Lisboa);

  • Kliot Mendes Gonçalves e Santo Zanatelli, no Sítio da Bocaina;

  • Soares & Filhos e Oliveira, no Sítio do Feital;

  • Osvaldo Augusto, também na Estrada da Pedreira.

Essas olarias, em sua maioria, utilizavam fornos contínuos a lenha, e o trabalho era totalmente manual. O barro era extraído, moldado, secado ao sol e depois queimado em fornos que atingiam temperaturas superiores a 900°C. Cada tijolo carregava a marca da olaria — letras gravadas no barro úmido antes da queima, como A D, S Z, S F ou O F M, que hoje são pistas valiosas para os pesquisadores identificarem a origem de peças encontradas.

“Encontramos um tijolo com a sigla O F M na região do Feital. Pequenas descobertas como essa ajudam a reconstruir o mapa das olarias de Mauá e a compreender como elas se distribuíam pelo território”, comenta Alex Ferreira.

 O fim das chaminés e o início da memória

Com a expansão urbana e a chegada de grandes indústrias a partir da década de 1960, as olarias começaram a desaparecer. O que antes era periferia rural virou bairro; o solo fértil foi coberto por asfalto e concreto. Poucos vestígios restaram: um forno soterrado aqui, um tijolo marcado ali, ou uma lembrança na memória dos mais antigos.

Muitos desses trabalhadores — italianos, portugueses e migrantes do interior — viveram e criaram famílias nas próprias olarias, formando pequenos povoados ao redor das fábricas. “O trabalho era duro, mas era o sustento de muita gente”, contam antigos moradores.

Hoje, a proposta do projeto Mauá Memória é resgatar essas histórias antes que desapareçam de vez, formando um acervo colaborativo. Todas as informações obtidas serão compartilhadas com o Museu Virtual do Tijolo, instituição que reúne registros sobre a produção cerâmica em várias regiões do país.

 Um convite à população

A lista das olarias de Mauá está longe de estar completa — e é justamente esse o ponto que torna o projeto tão especial. O historiador Alex Ferreira convida moradores, descendentes e curiosos a participarem da reconstrução desse passado coletivo.

“Talvez alguém tenha uma foto antiga, um pedaço de tijolo marcado ou apenas uma lembrança de infância. Qualquer detalhe pode ajudar a preencher as lacunas dessa história”, afirma.

Quem quiser colaborar pode entrar em contato pelo e-mail mauamemoria@outlook.com

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