Conto: A Chegada dos Bertassi a Mauá em 1932
A família Bertassi chega a Pilar em 1932, fugindo da crise no interior paulista. Com malas nas mãos e esperança no coração, iniciam uma nova vida na Vila Bocaina, onde cada membro começa a traçar seu destino na futura cidade de Mauá.

O trem bufou alto ao se aproximar da Estação de Pilar, despejando uma nuvem de fuligem e esperança. Era fim de tarde quando os Bertassi desceram com malas de couro, sacos de pano e olhos que tentavam decifrar o novo mundo ao redor. A cidadezinha, ainda chamada Pilar, era um emaranhado de ruas de terra batida, carroças rangendo e casas de madeira com quintais cheios de galinhas.
Giuseppe Bertassi, o patriarca, desceu primeiro. As mãos grossas, calejadas de anos de trabalho em pedreiras no interior, seguravam firme a pequena mala onde guardava suas ferramentas de escarpelino — um martelo, um cinzel e uma foto antiga de seus pais na Itália. Ao seu lado, Anita, a esposa, segurava o terço com firmeza, como se cada conta rezada fosse uma âncora para não se perder naquele novo lugar.
— “Aqui tem pedra, tem lenha e tem trabalho. A gente começa de novo.”, disse Giuseppe, com o sotaque ainda forte e uma determinação que nenhum dos filhos ousava contestar.
Eram quatro filhos, cada um com seu destino ainda não escrito.
Luigi, o mais velho, trazia nos ombros a responsabilidade que herdou sem pedir. Com seus 17 anos e olhar sério, logo se ofereceria para trabalhar na olaria do senhor Morelli, onde diziam que “homem bom de braço nunca faltava serviço”.
Rosa, com 13 anos, carregava um caderno e uma caneta presa ao vestido. Era apaixonada por letras e sonhava em ser professora. Ao ver a escola da vila — um barracão com bancos tortos e lousa de carvão — seus olhos brilharam como quem encontra um tesouro.
Carmine, com 7 anos, não parava de perguntar se tinha rádio ali, se alguém vendia doce, se tinha cinema. Era inquieto como o próprio vapor da locomotiva. Mal sabiam que um dia viraria dono de um salão dançante, mas por ora, era só o menino que corria em volta das malas.
Teresa, a caçula com apenas 2 anos, dormia nos braços de Anita, envolta num xale bordado pela avó. Era o símbolo do futuro: pequena, frágil, mas cheia de possibilidades.
A casa que os esperava era simples: uma construção de madeira no início da Vila Bocaina, cercada por mato e um pé de jabuticaba. A água vinha do poço e a luz do lampião. Mas havia vizinhos amigáveis, cheiro de pão quente e o som distante de sanfonas aos domingos.
Na primeira noite, Giuseppe fincou no chão do quintal a estaca da roupa e disse:
— “Agora é aqui que a gente sonha.”
Rosa anotou a frase no caderno. Anita acendeu a lamparina. Luigi foi conhecer a olaria. Carmine descobriu que o vizinho tinha um rádio de válvula. Teresa dormiu sem saber que acabara de chegar a uma terra que ainda se chamava Pilar, mas que um dia seria Mauá — e os Bertassi, parte viva da sua história.
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