Conto: Fantasmas no Museu Barão de Mauá
Na década de 1940, o antigo casarão da Vila Bocaina — que décadas depois se tornaria o Museu Barão de Mauá — era uma residência de aluguel. A família Romano, de imigrantes italianos, passa a morar no local e logo presencia fenômenos sobrenaturais: ruídos misteriosos, portas que se fecham sozinhas e a aparição recorrente de um homem de cartola — o suposto fantasma do antigo dono.

Mauá, década de 1940.
A velha casa no alto da colina da Vila Bocaina, cercada por árvores frondosas e o murmúrio distante da estação de trem de Pilar, era conhecida pelos moradores da região como o casarão dos segredos. Construída sobre antigas terras da fazenda Bocaina, a residência já abrigara senhores de posses, famílias imigrantes e até operários solteiros que vinham trabalhar nas olarias e pedreiras da cidade.
Naquele ano, 1943, a casa fora alugada à família Romano, imigrantes italianos que viviam do pequeno comércio e da produção de cerâmica artesanal. A matriarca, dona Giulia, dizia que aquela casa guardava "memórias demais para um só lugar". E talvez estivesse certa.
Desde o primeiro dia, os filhos da família relataram ouvir sussurros durante a madrugada. Passos no assoalho, mesmo quando todos já dormiam. Portas que se fechavam sozinhas. E, principalmente, a figura de um homem de casaca preta e cartola que caminhava pelo salão principal nas noites de lua cheia. Ele parecia inspecionar a casa com um olhar severo, como se ainda fosse o dono legítimo do local.
Giulia, mulher de fé, acendeu velas, chamou um padre da Igreja Imaculada Conceição e até recorreu a um benzedor de Ribeirão Pires. Nada adiantou.
Na primavera daquele ano, o filho mais novo, Pietro, encontrou no sótão uma caixa com papéis amarelados e documentos antigos. Entre eles, uma carta datada de 1875, assinada por um certo Barão de Mauá. O texto mencionava a casa como propriedade de um senhor João Norsa — o mesmo que a teria cedido a Paulo Visira, parente dos Godoy, muitos anos antes.
Pietro mostrou o achado à mãe. “Talvez ele não saiba que morreu”, disse Giulia. “Talvez só precise ser lembrado.” Com a ajuda do padre, organizaram uma missa no salão da casa.
Naquela noite, o casarão ficou tomado por moradores curiosos, alguns lembrando com nostalgia dos bailes de sanfona tocados por Godofredo de Godoy. Outros só queriam ver se o fantasma apareceria.
Ao final da celebração, um vento gelado percorreu o salão. Um quadro antigo caiu da parede e revelou, atrás dele, uma inscrição à carvão: “Que esta casa seja sempre memória.”
A figura do homem de cartola nunca mais foi vista.
Em 1982, a mesma casa foi oficialmente transformada na Casa de Cultura e Museu Barão de Mauá. Alguns dizem que foi apenas coincidência. Outros, que o velho espírito apenas se acalmou ao ver sua casa se tornar guardiã da história da cidade.
Até hoje, seguranças e funcionários do museu relatam que portas se abrem sozinhas e que, às vezes, à meia-noite, ainda é possível ouvir os passos do antigo barão cruzando os salões — agora não com raiva, mas com orgulho.
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