A Revolução dos Canteiros: Quando o Trabalho Venceu o Capital

Só dois meses depois, em 1º de novembro, o jornal explicava o motivo da paralisação: os patrões haviam reduzido os preços pagos pela produção, cortando valores de forma injusta e insustentável. Mas os trabalhadores resistiram. Organizados e determinados, decidiram não voltar enquanto seus direitos não fossem respeitados.

A Revolução dos Canteiros: Quando o Trabalho Venceu o Capital

A história do movimento operário no Brasil guarda capítulos de coragem que muitas vezes passam despercebidos. Um deles aconteceu em Ribeirão Pires, no início do século XX, quando os canteiros, trabalhadores das pedreiras locais, enfrentaram patrões poderosos e mudaram para sempre a dinâmica da região.

Esses relatos estão preservados na coleção fac-similar do jornal A Voz do Trabalhador, órgão oficial da Confederação Operária Brasileira (1908–1915). E é ali, nas páginas dedicadas às greves de 1913 e 1914, que encontramos a prova viva de que na luta de classes, o trabalho pode, sim, vencer o capital.

A greve que marcou a história

Em 1º de setembro de 1913, A Voz do Trabalhador anunciava a greve dos canteiros, citando o industrial Vitorino de Lantonia e destacando a atuação da Sociedade União dos Canteiros do Estado de São Paulo. O manifesto terminava com um grito que ecoava força e união:

“Avante, companheiros, com o boicote!”

Só dois meses depois, em 1º de novembro, o jornal explicava o motivo da paralisação: os patrões haviam reduzido os preços pagos pela produção, cortando valores de forma injusta e insustentável. Mas os trabalhadores resistiram. Organizados e determinados, decidiram não voltar enquanto seus direitos não fossem respeitados.

O movimento seguiu firme ao longo dos meses. Em dezembro de 1913, o jornal reforçava a solidez do sindicato dos canteiros e alertava para a necessidade de solidariedade. A luta era dura, mas não era em vão.

A vitória dos trabalhadores

Em 1914, a greve ainda não havia sido solucionada, mas os canteiros não recuaram. Trabalhando por conta própria, unidos e preparados, mantiveram sua subsistência e impediram que novos trabalhadores fossem trazidos para quebrar o movimento.

No fim, venceram.

Segundo Armando Kosmo Cyrillo — descendente direto dos canteiros e testemunha das histórias da época — a greve acabou com a escravidão nas pedreiras. Os patrões foram obrigados a aceitar as condições dos trabalhadores, que finalmente conquistaram melhores pagamentos e dignidade.

“Foi uma batalha bonita. Os canteiros ganharam o que quiseram e muitos viraram patrões.” — Armando Cyrillo

De explorados a empreendedores

A vitória dos canteiros abriu caminho para uma nova fase econômica e social em Ribeirão Pires. Muitos deles, como a família Cyrillo, deixaram a condição de empregados para adquirir seus próprios sítios e pedreiras. Outros nomes também prosperaram: Ferrari, Camilo, Matroni, Nazuto, Loti, Zanella e muitos mais.

Nas pedreiras onde antes havia opressão, agora havia autonomia. Os trabalhadores passaram a ditar as regras, organizar seus horários e até disputar partidas de bocha em pleno serviço — um reflexo da cultura italiana, predominante entre os canteiros da época.

Foi o marco de um tempo em que o dinheiro era valorizado, o trabalho era respeitado e a união transformava vidas.

O legado do movimento operário de Ribeirão Pires

A história da greve dos canteiros é mais do que um capítulo local: é parte da história da luta de classes no Brasil, um exemplo de como a organização sindical, a resistência e a solidariedade podem mudar a realidade de uma comunidade inteira.

Hoje, lembramos essa trajetória como um símbolo de coragem. Uma lembrança de que, mesmo diante da exploração, os trabalhadores podem virar o jogo.

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