Antes da autonomia: Como Mauá começou a lutar por sua emancipação
O antigo povoado de Pilar, embora anterior à chegada da ferrovia, passa a se desenvolver em torno da estação inaugurada em abril de 1883, marco decisivo para o crescimento da localidade.
As vitórias dos movimentos de emancipação em municípios vizinhos, como São Caetano do Sul, serviram de inspiração para lideranças locais de Mauá. Aos poucos, crescia entre seus moradores a percepção de que o distrito vinha sendo relegado a um segundo plano dentro da estrutura administrativa regional, despertando o desejo de autonomia política.
O antigo povoado de Pilar, embora anterior à chegada da ferrovia, passa a se desenvolver em torno da estação inaugurada em abril de 1883, marco decisivo para o crescimento da localidade. Em 1926, ainda caracterizado como um bairro rural, o povoado tem seu nome alterado para Mauá, em homenagem ao Barão de Mauá, empresário ligado à introdução do transporte ferroviário no Brasil e que teria possuído terras na região.
Em 1934, com uma população de 1.853 habitantes, Mauá é elevada à condição de Distrito de Paz, deixando de ser subordinada ao distrito de Ribeirão Pires. Três anos depois, em 1937, sua arrecadação alcança 49 contos e 781 mil e 500 réis, o equivalente a cerca de 2% da receita total do município de São Bernardo, evidenciando sua crescente importância econômica.
Ainda antes disso, em 1929, um grupo de moradores se organizou para reivindicar melhorias locais, formando o chamado Grupo de Colaboradores de Mauá. Entre seus integrantes estavam Antonio Braga, farmacêutico e futuro vereador; Manoel Pedro Jr., que se tornaria um dos principais líderes autonomistas; Guido Monteggia, ligado à indústria de louças; além de João Pântano, João Giannoni, Armando Scilla, Vitorino Dell’Antonia, Carmo Antico, entre outros.
Sob a liderança de Antonio Braga, o grupo iniciou sua atuação em um cenário de participação política extremamente limitada: Mauá contava com apenas seis eleitores, que ainda votavam em Ribeirão Pires. A primeira grande estratégia foi promover o alistamento eleitoral, já que o voto não era obrigatório, mas representava uma ferramenta essencial de pressão política.
Esse esforço teve resultados expressivos. Em poucos meses, o número de eleitores saltou de seis para 306, ampliando consideravelmente o peso político do distrito. Fortalecido, o grupo organizou um abaixo-assinado dirigido ao então prefeito de São Bernardo, Coronel Saladino Cardoso Franco, reivindicando a remodelação da estrada entre Santo André e Mauá e o pedregulhamento das vias internas que levavam às pedreiras.
A negociação foi estratégica. Às vésperas das eleições presidenciais de 1930, os líderes locais deixaram claro que o apoio eleitoral de Mauá poderia fortalecer o Partido Republicano Paulista (PRP) no município. Sensível à ampliação de seu capital político, o prefeito atendeu às reivindicações. Em 15 de março de 1930, conforme o acordo, o grupo votou majoritariamente no candidato governista Júlio Prestes.
O avanço da organização política trouxe novos marcos. Nas eleições de 1936, Mauá sediou pela primeira vez um posto de votação, deixando de depender de Ribeirão Pires, e elegeu seus primeiros representantes na Câmara Municipal de São Bernardo: Armando Braga e Pedro Dell’Antonia, este último futuro prefeito de Santo André entre 1956 e 1959.
Enquanto isso, o antigo distrito de Santo André, beneficiado pela proximidade com a estação ferroviária e por um comércio mais dinâmico, passa a superar a antiga sede do município em crescimento econômico e populacional. Como resultado, em 30 de novembro de 1938, o município de São Bernardo passa a se chamar Santo André, passando a englobar toda a área do atual ABC Paulista. Mauá passa então a integrar o município de Santo André, condição que permanecerá até 1954, quando se concretiza sua emancipação.
Essa trajetória revela que a emancipação de Mauá não foi um evento isolado, mas o resultado de décadas de articulação política, organização comunitária e disputas por reconhecimento, iniciadas muito antes da conquista da autonomia municipal.
Esta é a parte 3 da nossa série especial sobre a emancipação de Mauá.
Para compreender mais sobre o processo, convidamos você a acessar também a parte 1 e a parte 2, onde apresentamos o contexto nacional e regional que antecedeu as lutas autonomistas.
Acompanhe essa trajetória completa.
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