Cerâmica Morelli: uma das primeiras indústrias de Mauá

Um detalhe curioso preservado na memória popular é que as mulheres dos operários lavavam roupas no tanque do Morelli. Cada uma possuía seu lavadouro de madeira, e ao final do trabalho, as lavadeiras deixavam os varais prontos antes das chuvas — que eram frequentes na região. Quando o nível da água subia, os varais desapareciam, gerando boas doses de humor (e brigas) entre os jovens da época.

Cerâmica Morelli: uma das primeiras indústrias de Mauá

Muito antes das grandes fábricas se instalarem na região, Mauá já abrigava empreendimentos industriais de destaque. Um dos mais antigos foi a Cerâmica Morelli, citada entre as primeiras indústrias da cidade, anterior até mesmo à Matarazzo. Seu período de atividade se estendeu, ao menos, entre 1904 e 1916.

A história da cerâmica se confunde com a trajetória de duas famílias pioneiras: os Perrella e os Morelli.
Em 1904, Emigdio Perrella chegou ao bairro de Pilar, vindo de São Paulo, e logo tornou-se gerente da Cerâmica Morelli. Uma rara fotografia de 1910, que ilustra a capa do livro História de Mauá, mostra cerca de 70 empregados posando para o retrato — homens de chapéu e suspensórios, mulheres com longos vestidos e panos na cabeça, e crianças observando a cena. Entre eles estavam membros das famílias Emigdio, João e Nicola Perrella, além de João Scudeiro, avô do futuro vereador Eden Brazil da Paz e do médico Hermínio da Paz.

A cerâmica fabricava tijolos furados e telhas, semelhantes às atuais baiarinas ou canoinhas, muito utilizadas na época.
Américo Perrella, que nasceu em 1916, chegou a ver os últimos anos de funcionamento da fábrica, que encerrou suas atividades após a morte de seu pai, Emigdio, em 1931.

Um dos personagens marcantes ligados ao local foi Bernardo Morelli, cuja residência ficava ao lado da estação de Pilar, numa área conhecida como “lado de baixo”. Sua propriedade se estendia até onde depois funcionou a Fábrica Globo (Anelina) e o Curtume Mauá, atualmente área municipal. Em outro extremo, fazia divisa com terras de Luiz Merloni, próximas à famosa “paineira” que simbolizava a cidade e ficava perto do Banco Brasileiro de Descontos.

No início do século XX, a região era formada por terrenos vazios, que aos poucos atraíram oleiros e trabalhadores de cerâmica, vindos em busca do solo argiloso ideal para a fabricação de tijolos. A lagoa existente no local, conhecida como tanque do Morelli, servia de ponto de referência. Décadas depois, com o crescimento urbano, o espaço foi aterrado para dar lugar a um terminal rodoviário.

Um detalhe curioso preservado na memória popular é que as mulheres dos operários lavavam roupas no tanque do Morelli. Cada uma possuía seu lavadouro de madeira, e ao final do trabalho, as lavadeiras deixavam os varais prontos antes das chuvas — que eram frequentes na região. Quando o nível da água subia, os varais desapareciam, gerando boas doses de humor (e brigas) entre os jovens da época.

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