O Segredo Esquecido de Mauá: Quando a Cidade Dominava a Porcelana no Brasil

Durante cerca de duas décadas, Mauá brilhou intensamente. A cidade era sinônimo de tradição, tecnologia e beleza. As chaminés dominavam o horizonte, os trens levavam a produção para os portos, e o nome de Mauá atravessava fronteiras como referência de excelência.

O Segredo Esquecido de Mauá: Quando a Cidade Dominava a Porcelana no Brasil

Poucos sabem, mas entre as décadas de 1950 e 1970, a cidade de Mauá viveu uma era de esplendor que a colocou entre os maiores polos cerâmicos do país. Reconhecida em todo o Brasil — e até fora dele — como a Capital Nacional da Porcelana, Mauá produzia peças tão refinadas que chegaram a ser comparadas às tradicionais porcelanas europeias e orientais.

Foram tempos de fornos acesos dia e noite, operários dedicados e uma cidade inteira pulsando ao ritmo da indústria. Dali saíam aparelhos de jantar, jogos de chá e café, louças domésticas, adornos, vasos para floricultura, isoladores elétricos e até recipientes farmacêuticos — todos feitos com a pureza e resistência do caulim, o barro branco extraído das minas locais.

A ascensão dessa potência industrial não aconteceu por acaso. Mauá reunia uma combinação perfeita de fatores: matéria-prima abundante e de qualidade, mão de obra qualificada — em grande parte composta por imigrantes europeus —, localização estratégica entre a capital e o porto de Santos, e fácil escoamento da produção pela linha férrea. O resultado foi uma explosão de desenvolvimento que transformou um pequeno distrito operário em um símbolo da indústria paulista.

Entre as empresas que fizeram história, algumas se destacaram e ajudaram a consolidar o título de Mauá como capital da porcelana:

Fábrica de Louças Viúva Grande e Filhos, fundada em 1914 e conhecida pela população como “Fábrica Grande”. Passou por várias denominações ao longo de suas cinco décadas de existência, incluindo Companhia Industrial do Pilar e Cerâmica Miranda Coelho. O local onde funcionava hoje abriga o SESI do Jardim Zaíra.

Fábrica Paulista, de Luiz Torrighelli e Companhia, conhecida pelo famoso Tanque Paulista, essencial para o processo de produção e que se tornou um marco na paisagem da cidade.

Porcelana Mauá, fundada em 1937, foi a primeira fábrica paulista a produzir porcelana fina de mesa, tornando-se um orgulho local e um nome de prestígio nacional.

Indústria Cerâmica Cerqueira Leite S/A, que ocupava mais de 8.500 m² e fornecia isoladores de porcelana para empresas de energia e ferrovias de todo o país.

Porcelana Real, inaugurada em 1943, mais tarde renomeada como Porcelana Schmidt, tornou-se um dos maiores símbolos da qualidade mauaense, exportando para países como Dinamarca, Noruega, África do Sul e Finlândia, além de atender embaixadas brasileiras ao redor do mundo.

Durante cerca de duas décadas, Mauá brilhou intensamente. A cidade era sinônimo de tradição, tecnologia e beleza. As chaminés dominavam o horizonte, os trens levavam a produção para os portos, e o nome de Mauá atravessava fronteiras como referência de excelência.

Mas, com o passar dos anos, os tempos mudaram. O avanço da industrialização pesada no ABC, o surgimento de novos materiais e a mudança dos hábitos de consumo enfraqueceram o setor cerâmico. Aos poucos, os fornos se apagaram, as fábricas encerraram suas atividades, e o título de “Capital Nacional da Porcelana” tornou-se uma lembrança distante — mas jamais apagada.

Hoje, as peças sobreviventes dessa época dourada, preservadas em acervos como o do Museu Barão de Mauá, são testemunhas silenciosas de um período em que a cidade brilhou com força, beleza e talento.

Mauá já foi a capital da porcelana, o orgulho do Brasil e o reflexo do talento de seu povo. Uma história que merece ser lembrada — e contada para que nunca se apague o brilho do que fomos capazes de construir.

Fonte: Acervo do Museu Barão de Mauá e registros históricos da indústria cerâmica mauaense.

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