Quando a luta ganhou voz: A formação do grupo dos autonomistas e a consulta popular

No final dos anos 1940 e início dos anos 1950, Mauá ainda era um núcleo urbano bastante concentrado, formado basicamente pelas ruas ao redor da estação ferroviária, pela Avenida Barão de Mauá e algumas vias adjacentes. Apesar disso, as necessidades da população eram crescentes e refletiam o descompasso entre o desenvolvimento local e a atenção recebida do poder público.

Quando a luta ganhou voz: A formação do grupo dos autonomistas e a consulta popular

A partir de 1946, as reivindicações de Mauá passam a ganhar uma nova forma de organização. Surge nesse contexto a Sociedade Amigos do Distrito de Mauá, criada com o objetivo explícito de articular as demandas da população local e dar maior visibilidade aos problemas enfrentados pelo distrito.

No final dos anos 1940 e início dos anos 1950, Mauá ainda era um núcleo urbano bastante concentrado, formado basicamente pelas ruas ao redor da estação ferroviária, pela Avenida Barão de Mauá e algumas vias adjacentes. Apesar disso, as necessidades da população eram crescentes e refletiam o descompasso entre o desenvolvimento local e a atenção recebida do poder público.

Entre as principais reivindicações estavam a retificação e o calçamento da Avenida Barão de Mauá e da estrada que ligava Santo André a Ribeirão Pires, passando por Mauá; a ampliação do número de escolas e salas de aula, diante da precariedade do atendimento escolar; o prolongamento do horário dos trens suburbanos até Mauá; e a expansão das linhas telefônicas, especialmente para atender o comércio e as indústrias locais.

Essas demandas não eram abstratas: faziam parte do cotidiano dos moradores. Um exemplo emblemático é o de Rafael Palubinskas, que mais tarde integraria o grupo dos autonomistas. Trabalhador da Porcelana Real, Rafael estudava à noite em Santo André, mas enfrentava enormes dificuldades para retornar a Mauá, já que não havia trens noturnos. Muitas vezes, o trajeto era feito a pé, seguindo os trilhos da ferrovia, chegando em casa apenas perto da meia-noite, para poucas horas depois iniciar novamente a jornada de trabalho.

Diante dessas dificuldades, Rafael e outros moradores organizaram um abaixo-assinado com cerca de mil assinaturas, solicitando à São Paulo Railway a extensão do horário dos trens até Mauá. O documento foi entregue na Estação da Luz, em São Paulo, e a reivindicação foi atendida: passou a circular um trem noturno que chegava a Mauá por volta das 23 horas. A conquista beneficiou estudantes, trabalhadores e até frequentadores de cinema em Santo André, já que Mauá ainda não possuía salas de exibição. Mais tarde, esses mesmos estudantes também se mobilizariam para trazer uma linha de ônibus ao distrito.

Em 1949, a Sociedade Amigos do Distrito dá um passo decisivo ao criar o jornal Folha de Mauá, que se tornaria uma ferramenta fundamental de informação, mobilização e divulgação das ideias autonomistas. É a partir da atuação da Sociedade que o movimento pela emancipação começa a se estruturar de forma mais clara, ainda que inicialmente sem grandes anúncios públicos.

Em 1952, o tema já aparece na imprensa regional. Uma nota publicada no jornal Folha do Povo, de Santo André, registra discretamente o avanço do movimento:

“Tendo à frente os srs. Egmont Fink, Luiz Novi e Tercílio Tamagnini, elementos de projeção no Partido Social Progressista local, foi organizado em Mauá um movimento pela emancipação administrativa de Santo André.”

A esse núcleo somam-se outras lideranças e moradores engajados, como Ariocy Rodrigues Costa, os irmãos Anselmo e Harry Walendy, Manuel Pedro Jr., Inocêncio Pedro, José Figueiredo, entre outros, consolidando o grupo dos autonomistas de Mauá.

O caminho até o plebiscito

Com a redemocratização do país, a Lei Orgânica dos Municípios, de 18 de setembro de 1947, estabelece critérios claros para a emancipação municipal. Para se tornar município, um território deveria possuir população mínima de 4 mil habitantes e renda anual mínima de 200 mil cruzeiros.

No início da década de 1950, Mauá já superava amplamente essas exigências. O distrito contava com mais de 9 mil habitantes e uma arrecadação prevista para 1953 superior a 3 milhões de cruzeiros, valores que reforçavam sua viabilidade administrativa e econômica.

A lei também previa a realização de um plebiscito, que só poderia ocorrer mediante a apresentação de um abaixo-assinado com a adesão de pelo menos 10% da população adulta do território. Essa exigência transformou a mobilização popular em um elemento central do processo, reforçando o caráter democrático da luta autonomista.

Assim, a emancipação de Mauá deixou de ser apenas um desejo de lideranças locais para se tornar um movimento coletivo, construído a partir de experiências concretas, organização comunitária e participação política — preparando o terreno para a decisão que definiria o futuro do distrito.

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