A Biblioteca do Grêmio Cultural Monteiro Lobato: um patrimônio afetivo da história de Mauá

A escolha do nome — Grêmio Cultural Monteiro Lobato — ocorreu em uma reunião realizada na antiga sede da Cooperativa Agrícola de Cotia, na Avenida Barão de Mauá. À época, a biblioteca mantida pela entidade reunia cerca de quatro mil livros, um acervo expressivo para os padrões locais, e reunia aproximadamente 200 associados, que contribuíam mensalmente com 50 cruzeiros para sua manutenção.

A Biblioteca do Grêmio Cultural Monteiro Lobato: um patrimônio afetivo da história de Mauá

Em meados da década de 1980, uma reportagem do Diário do Grande ABC chamou atenção para um tesouro cultural que, por algum tempo, havia permanecido quase esquecido: a Biblioteca do Grêmio Cultural Monteiro Lobato, uma das mais antigas instituições de leitura de Mauá e de todo o Grande ABC. Fundado oficialmente em 15 de agosto de 1955, o Grêmio surgiu de iniciativas comunitárias anteriores, já ativas desde 1954, e nasceu com a proposta de incentivar o estudo, a cultura e o acesso aos livros em uma cidade que ainda engatinhava em sua formação urbana.

A escolha do nome — Grêmio Cultural Monteiro Lobato — ocorreu em uma reunião realizada na antiga sede da Cooperativa Agrícola de Cotia, na Avenida Barão de Mauá. À época, a biblioteca mantida pela entidade reunia cerca de quatro mil livros, um acervo expressivo para os padrões locais, e reunia aproximadamente 200 associados, que contribuíam mensalmente com 50 cruzeiros para sua manutenção.

Redescoberta e reorganização nos anos 1960

Com o passar dos anos, o movimento cultural da instituição diminuiu. Porém, por iniciativa de antigos moradores, a biblioteca foi reorganizada e voltou à ativa no início da década de 1960, permanecendo instalada no número 44 da Avenida Barão de Mauá. Nessa nova fase, ela passou a receber um fluxo crescente de estudantes e pesquisadores, tornando-se fonte de consulta para jovens de Mauá e de cidades vizinhas.

Foi nesse período que um personagem marcaria definitivamente a história do lugar: Benedito Martins, conhecido por todos como Seo Dito.

Seo Dito: o guardião da memória

Quando o Diário do Grande ABC publicou sua matéria em 1986, Seo Dito tinha 73 anos. Magro, quase calvo, de bigode marcante e voz mansa, era descrito como a alma do Grêmio Cultural Monteiro Lobato. Seu cotidiano se confundia com o da biblioteca: ele morava nos fundos do prédio, organizava o acervo, orientava estudantes e mantinha viva a tradição da leitura.

As páginas amareladas dos livros, as enciclopédias de capa gasta e as estantes abarrotadas conviviam com o movimento constante de alunos que buscavam informações para trabalhos escolares, pesquisas históricas e estudos gerais. E sempre que alguém acreditava que determinado livro “não existia”, bastava chamar por ele. Seo Dito surgia com a obra em mãos — sabia exatamente onde cada título estava.

A reportagem destaca que ele era procurado por jovens de todo o Grande ABC: de Ribeirão Pires, Rio Grande da Serra, Santo André e, naturalmente, de Mauá. A biblioteca era conhecida como um espaço simples, porém extremamente acolhedor e útil, funcionando até mesmo aos domingos — algo raro e possível graças exclusivamente ao empenho pessoal de Seo Dito.

Um espaço pequeno, mas essencial

A sala estreita da biblioteca alugava parte do prédio pertencente à família Souza Telles, e era decorada do seu jeito: prateleiras improvisadas, caixas com recortes, pilhas de revistas e livros organizados à sua maneira. Tudo respirava história e dedicação.

Mesmo quando a Biblioteca Municipal de Mauá não possuía o livro procurado, os estudantes recorriam ao Grêmio — e quase sempre encontravam a obra, muitas vezes já bastante manuseada pelas gerações anteriores.

O legado de uma vida entre livros

A matéria do Diário do Grande ABC enfatizada que Seo Dito era mais que bibliotecário: era amigo, conselheiro, orientador. Seu trabalho voluntário manteve viva a Biblioteca do Grêmio Cultural Monteiro Lobato em tempos de recursos escassos e pouca visibilidade.

Seu maior orgulho não era apenas cuidar dos livros, mas participar da formação de milhares de estudantes que, ao longo das décadas, passaram por aquele espaço modesto, porém fundamental. O Grêmio Monteiro Lobato não se destacava pelo luxo ou pela estrutura, e sim pela humanidade, pelo ambiente acolhedor e pelo compromisso silencioso com a educação — elementos representados na figura serena de Seo Dito.

Um patrimônio da cidade

Hoje, a história da Biblioteca do Grêmio Cultural Monteiro Lobato permanece como parte essencial da memória cultural de Mauá. Ela simboliza o poder transformador da leitura e o impacto que pessoas dedicadas — como Benedito Martins — podem deixar na formação intelectual de uma cidade inteira.

A reportagem de 1986 registra mais que um espaço físico: registra um capítulo de afeto, simplicidade e resistência da cultura local. Um capítulo que merece ser preservado, lembrado e celebrado.

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