A política mauaense sempre refletiu, em escala local, as tensões e transformações da história política brasileira. Desde os tempos em que ainda era um distrito de Santo André, Mauá foi marcada pela presença ativa da esquerda, pelo protagonismo popular e por uma polarização que atravessa décadas.
Já na década de 1940, quando a cidade ainda não havia conquistado sua emancipação, o comunista Ennio Brancalion (PCB) foi eleito vereador por Santo André, com forte apoio dos trabalhadores mauaenses. O mesmo movimento popular ajudou a eleger Armando Mazzo, também do Partido Comunista Brasileiro, o primeiro prefeito comunista da história do Brasil. À época, Mauá tinha uma população majoritariamente operária e humilde, marcada pela presença de fábricas e pelo espírito sindical, o que favorecia as ideias progressistas.
Em 1954, na primeira eleição municipal após o plebiscito de emancipação, os eleitores confirmaram essa tendência ao escolher Ennio Brancalion, então no Partido Trabalhista Brasileiro (PTB), de Getúlio Vargas, como primeiro prefeito. O curioso é que Brancalion sequer havia participado do movimento emancipacionista — liderado por Egmont Fink, candidato derrotado à prefeitura e representante do conservador Partido Social Progressista (PSP). A escolha da população demonstrava que Mauá nascia, politicamente, com inclinações trabalhistas e populares.
Durante o período da Ditadura Militar (1964–1985), a realidade política local acompanhou o autoritarismo nacional. A ARENA, partido de apoio ao regime, dominou a cena política mauaense até o início da década de 1970, quando Amaury Fioravanti (MDB) rompeu a hegemonia governista ao se eleger prefeito em 1972. A partir daí, a política local se dividiu em dois grandes grupos: o Damismo, liderado por Leonel Damo, e o grupo Fioravantista, de orientação mais popular. Essa polarização dominou a cidade nas décadas de 1970 e 1980.
Com a redemocratização, um novo ator ganhou força: o Partido dos Trabalhadores (PT). A legenda passou a dividir o comando político da cidade com o grupo conservador de Leonel Damo. Dessa rivalidade nasceram duas figuras centrais da história recente de Mauá: o petista Oswaldo Dias, que governou por 12 anos e consolidou a presença do PT no município, e Vanessa Damo, filha e herdeira política de Leonel Damo, que representou a continuidade do campo conservador.
O embate entre o PT e o Damismo tornou-se o eixo da política mauaense por mais de duas décadas. Tentativas de construção de uma terceira via foram raramente bem-sucedidas. Nomes como Paulo Bio (PMDB), Cincinato Freire (PL), Chiquinho do Zaíra (PSB), Atila Jacomussi (PPS) e Diniz Lopes (PSDB) chegaram a representar alternativas, mas nunca romperam o domínio dos dois blocos principais. O auge dessa disputa ocorreu nas eleições de 2008, quando Diniz Lopes obteve expressivos 23% dos votos, quase alcançando o segundo turno, mas viu sua trajetória política abalada por problemas judiciais posteriores.
Ao longo das décadas, Mauá viveu momentos de grande instabilidade. O ex-prefeito Edgard Grecco foi destituído por impeachment em 1965, e em 2004, uma das mais conturbadas eleições da cidade terminou com a cassação da candidatura de Márcio Chaves Pires na véspera do segundo turno. A decisão judicial levou à posse provisória de Diniz Lopes e, posteriormente, à vitória de Leonel Damo, declarada pela Justiça Eleitoral sem nova votação.
No cenário estadual e federal, Mauá também produziu nomes de relevância. José Carlos Grecco foi deputado constituinte em 1988, Wagner Rubinelli e Hélcio Silva assumiram mandatos federais nos anos 2000, e Donisete Braga — um dos principais nomes do PT na cidade — foi deputado estadual por três mandatos, antes de se eleger prefeito em 2012. Vanessa Damo, por sua vez, foi eleita deputada estadual em 2006, tornando-se a parlamentar mais jovem do país à época.
Mais recentemente, o Partido dos Trabalhadores retomou o protagonismo político. Em 2020, o petista Marcelo Oliveira venceu a disputa municipal por margem apertada, mas consolidou sua liderança ao ser reeleito em 2024, feito inédito em 24 anos de história política mauaense. Sua vitória expressiva confirmou a retomada da influência da esquerda e marcou um novo ciclo para a cidade.
Assim, a história política de Mauá é marcada por contrastes: entre operários e empresários, entre conservadores e progressistas, entre estabilidade e turbulência. Desde os tempos do comunista Ennio Brancalion até a reeleição de Marcelo Oliveira, a política mauaense reflete, em cada voto e em cada embate, o espírito inquieto de uma cidade que aprendeu a fazer da disputa democrática a expressão viva de sua identidade social e histórica.