Estação Guapituba: Da “Ingleza” ao Jardim que Virou Referência na CPTM
O marco inicial da atual Estação Guapituba surgiu ainda no começo do século XX. Uma nota publicada em O Estado de S. Paulo em 12 de maio de 1907 registrava que “o Governo Federal concedeu à SPR licença para construir um posto telegráfico no quilômetro 50”. Nascia ali o posto telegráfico de Guapituba, ainda sem função plena de estação, mas já cumprindo papel estratégico de comunicação na ferrovia.
A história da Estação Guapituba se entrelaça à própria formação ferroviária paulista. Sua origem remonta à época da São Paulo Railway (SPR), a famosa “Ingleza”, primeira estrada de ferro construída em solo paulista. A SPR foi erguida entre 1862 e 1867 por investidores ingleses — entre eles, o Barão de Mauá, um de seus principais acionistas — com a missão de ligar Jundiaí ao porto de Santos.
Durante décadas, especialmente até os anos 1930, a ferrovia funcionou como o principal corredor de transporte do café e de inúmeras mercadorias. Também escoava passageiros do interior rumo ao litoral, atravessando a cidade de São Paulo de norte a sul em um verdadeiro funil ferroviário.
Com o fim da concessão governamental em 1946, a linha passou a se chamar Estrada de Ferro Santos–Jundiaí (EFSJ), denominação que se popularizou e permanece viva na memória da população, mesmo após mudanças administrativas posteriores — como sua integração à RFFSA nos anos 1970 e, mais tarde, à MRS Logística em 1997. Neste mesmo ano, encerrou-se o transporte regular de passageiros de longa distância, embora o trecho entre Jundiaí e Paranapiacaba siga ativo, hoje atendido pelas composições metropolitanas.
Da autorização ao posto telegráfico — a semente de Guapituba
O marco inicial da atual Estação Guapituba surgiu ainda no começo do século XX. Uma nota publicada em O Estado de S. Paulo em 12 de maio de 1907 registrava que “o Governo Federal concedeu à SPR licença para construir um posto telegráfico no quilômetro 50”. Nascia ali o posto telegráfico de Guapituba, ainda sem função plena de estação, mas já cumprindo papel estratégico de comunicação na ferrovia.
Com o aumento do movimento na região, vieram as primeiras reivindicações por uma parada regular. Desde 1972, moradores pressionavam por uma estação que atendesse adequadamente o crescimento populacional dos bairros próximos. Até então, o trem só parava mediante solicitação: “tem alguém para subir ou descer”.
A estação que nasceu em oito meses
Somente em 4 de junho de 1983, Guapituba ganhou status oficial de estação ferroviária. A construção empregou uma solução curiosa: parte da estrutura foi montada sobre trilhos para agilizar o processo, permitindo que tudo fosse concluído em apenas oito meses. O novo ponto de embarque passou a integrar o sistema metropolitano e, em 1994, foi incorporado à Linha D (Luz–Rio Grande da Serra) da recém-criada CPTM.
O jardim que virou símbolo
Mais de duas décadas depois da inauguração, Guapituba ganharia outro destaque — desta vez, não pela engenharia, mas pela sensibilidade. Em fevereiro de 2005, O Estado de S. Paulo publicou uma reportagem que surpreendeu os usuários da Linha D: “onde havia trilhos, pedras, concreto e mato, agora florescem rosas, cravos, dálias e azaléias”.
O responsável por transformar a paisagem árida da estação em um jardim vivo foi o faxineiro José Nilton da Silva de Souza. Ao lado da plataforma 1, ele plantou flores diversas; na plataforma 2, surgiram bananeiras, goiabeiras e até pequenas culturas de feijão e mandioca. A dedicação espontânea acabou tornando o local uma referência na linha.
O chefe da estação na época, Valdemar Cardoso, comemorava: “todos adoram”.
Um patrimônio afetivo de Mauá
Hoje, a Estação Guapituba permanece como uma das paradas fundamentais para os moradores da região, carregando um século de transformações — do antigo posto telegráfico da “Ingleza” ao ponto movimentado dos trens metropolitanos. Sua trajetória mistura passado ferroviário, crescimento urbano e histórias humanas que dão vida à memória de Mauá.
Apoie o Mauá Memória
Sua colaboração nos ajuda a manter viva a história de Mauá
💳 Contribua via PIX
Deixe 0,00 para gerar um código com valor em aberto