Samba-lenço de Mauá: a dança afro que transformou fé, resistência e identidade em história viva

O Samba-lenço de Mauá, único do gênero ainda em atuação no Brasil, é mais do que dança. É resistência, é memória coletiva, é espiritualidade. É um patrimônio vivo que atravessou preconceitos, mudanças de cidade, burocracias e décadas inteiras sem perder sua essência.

Samba-lenço de Mauá: a dança afro que transformou fé, resistência e identidade em história viva
Samba-lenço de Mauá: a dança afro que transformou fé, resistência e identidade em história viva

Quem passa por Mauá hoje talvez não imagine que manifestações culturais afro-brasileiras do país nasceu justamente aqui, entre ruas de terra, fogueiras de festa popular e a força de uma comunidade que acreditava no poder da fé e da música. Mas basta ouvir os primeiros versos de “O galo cantou!” ecoando nos encontros do Samba-lenço para entender: estamos diante de uma história que pulsa há mais de meio século.

O Samba-lenço de Mauá, único do gênero ainda em atuação no Brasil, é mais do que dança. É resistência, é memória coletiva, é espiritualidade. É um patrimônio vivo que atravessou preconceitos, mudanças de cidade, burocracias e décadas inteiras sem perder sua essência.

Uma herança africana que encontrou raízes em Mauá

O Samba-lenço é uma expressão profundamente marcada por sua origem negra, herdada do período da escravidão nas regiões cafeeiras de São Paulo. Seus ritmos, melodias e coreografias falam sobre dor, fé, luta e alegria — a verdadeira síntese da experiência afro-brasileira.

Além de sua raiz africana, a manifestação carrega forte conexão religiosa, principalmente com a devoção a São Benedito, reforçando o sincretismo que moldou tantas expressões culturais do país.

E o mais bonito: o grupo nasceu de forma espontânea, criado por trabalhadores migrantes, devotos do catolicismo popular, que encontraram no canto e na roda uma forma de celebrar a vida.

A promessa que deu origem ao grupo

O início dessa história remonta aos anos 1950. Dona Isaura de Assis da Rocha contou que precisou ser internada com amnésia. Sua comadre, Sebastiana Augusta da Silva, fez então uma promessa: durante sete anos realizaria a festa de Folia de Reis pela saúde da amiga.

A cada celebração, depois da cerimônia religiosa, surgia naturalmente a roda de samba — e foi assim que o grupo começou a ganhar forma, identidade e propósito.

A chegada a Mauá e a luta por espaço

Em busca de uma vida melhor, parte do grupo migrou para Mauá. Em 1959, João da Rocha, marido de Dona Isaura e liderança do Samba-lenço, comprou um terreno no Jardim Zaíra — até hoje ocupado por seus descendentes. Foi ali que a tradição se enraizou definitivamente na cidade.

Mas não foi simples. Na época, apresentações públicas só eram permitidas com licença da Prefeitura. Mesmo assim, insistiram. Resistiram. Dançaram onde podiam. Até que, nos anos 1970, o grupo se apresentou oficialmente pela primeira vez na Concha Acústica, em um evento promovido pela Administração Municipal.

E foi ali que, com emoção profunda, entoaram uma das canções mais marcantes de seu repertório:

O galo cantou!
Que horas será?
Tá chegando a hora
de quem tem amor, chorar.
Faça como eu,
que nem amor tem.
Quietinho no meu cantinho
Devagarinho vou vivendo.

Instrumentos únicos, feitos pelas próprias mãos

A musicalidade sempre foi uma marca do Samba-lenço. João da Rocha, visionário, construiu instrumentos que até hoje são utilizados:

  • Manhoso – caixa de repique

  • Zabumba sete léguas – surdo tocado com a maia

  • Campanha – contra-surdo

Essas peças artesanais reforçam ainda mais o valor histórico e cultural do grupo.

Da TV Cultura aos grandes festivais: Mauá no mapa da cultura popular

Em mais de 50 anos de trajetória, o Samba-lenço participou de festivais, formou novas gerações e chegou à televisão. Apresentou-se no Viola, Minha Viola, de Inezita Barroso, e gravou músicas para o CD do Itaú Cultural.

Entre seus projetos atuais estão:

  • registrar letras antigas preservadas apenas na memória dos puxadores;

  • gravar um disco com canções próprias.

A morte de Dona Isaura, em 26 de junho de 2004, marcou profundamente o grupo. Em um toque poético do destino, sua última apresentação — gravada no Paço Municipal — foi ao ar na TV Cultura no dia de seu falecimento.

Uma despedida silenciosa, mas eternizada.

Por que preservar o Samba-lenço importa para Mauá?

Porque ele é história viva.
É memória afro-brasileira.
É identidade local.
É parte do que faz Mauá ser o que é.

Preservar o Samba-lenço é honrar a luta e a fé de gerações. É garantir que a cultura não se perca. É ensinar às futuras gerações que resistir também pode ser dançar.

Garanta a sua Caneca Comemorativa de 2025 – 71 anos de Mauá! 

Uma peça criada especialmente para honrar essa trajetória rica, forte e inspiradora.
Adquira a sua e leve para casa um símbolo da identidade da nossa cidade.

EDIÇÃO LIMITADA! GARANTA A SUA AQUI!!!

Apoie o Mauá Memória

Sua colaboração nos ajuda a manter viva a história de Mauá

💳 Contribua via PIX
R$

Deixe 0,00 para gerar um código com valor em aberto