A Fábrica Grande: onde começou a história da cerâmica em Mauá

A Fábrica Grande marcou o início da indústria cerâmica em Mauá. Fundada em 1914 nas terras da Viúva Grande & Filhos, no antigo bairro do Corumbé, produziu louças e empregou gerações, especialmente da família Viola. Ao longo dos anos teve diferentes nomes e donos, até encerrar as atividades em 1964, deixando um legado histórico no atual Jardim Zaira.

A Fábrica Grande: onde começou a história da cerâmica em Mauá

Era início do século XX, e o solo fértil e argiloso do antigo bairro do Corumbé — hoje Jardim Zaira — parecia esconder um destino traçado: ali nasceria uma fábrica de louças que marcaria gerações.

Tudo começou com Francisco Viola, um italiano que cuidava de um desvio ferroviário em Guapituba. Ele trabalhava com o transporte de pedras, tijolos e lenha — materiais que, sem saber, preparavam o terreno para um novo ciclo. Em 1908, Francisco e sua esposa Rosa Pugliese Viola mudaram-se para o Corumbé, onde ele passou a trabalhar nas terras da Viúva Grande & Filhos.

Pouco tempo depois, em 1911, um registro oficial concedeu à Viúva Grande — dona Adélia — o direito de montar uma fábrica de louças. Sua propriedade começava logo na porteira da estrada do Corumbé (hoje avenida Castelo Branco), onde mais tarde se instalaria o SESI. Adélia tinha uma filha, Olga, casada com Vicente Contente, homem que assumiu a direção da fábrica e também presidiu a Câmara de São Bernardo.

Em 1914, o sonho saiu do papel: nascia a Fábrica Grande, uma das primeiras indústrias de cerâmica da região. A história, no entanto, teve seus altos e baixos. Vicente acabou se afastando do negócio e, segundo relatos, terminou seus dias em dificuldades. Foi então que um português de Santos, Viriato Correia, assumiu a direção e trouxe compatriotas para trabalhar com ele. Sob sua gestão, a fábrica ganhou novo nome: Companhia Industrial do Pilar — nome que mais tarde inspiraria o tradicional Clube AA Industrial, ainda existente em Mauá.

Mas as transformações não pararam aí. Em 1926, a fábrica passou a se chamar Fábrica de Louças Mauá (Luso), sob o comando da Comércio e Indústria João Jorge Figueiredo S/A.

Entre todos os que fizeram parte dessa trajetória, os Viola permaneceram como símbolo de dedicação. Dona Natalina, Maria e Rosa Viola — filhas e netas de Francisco — trabalharam por décadas na fábrica. Rosa, que começou aos 12 anos, chegou a guardar as folhas de pagamento e fichas de funcionários desde 1931, ajudando ex-operários a comprovar tempo de serviço para a aposentadoria.

Naquele tempo, o trabalho era intenso, mas cheio de significado. Produziam-se chícaras para quentão enviadas a Minas Gerais, além de tigelas, pratos, travessas e canecas. O som dos motores e o cheiro da argila faziam parte do cotidiano de quem vivia em torno da fábrica.

As primeiras casas para os operários foram erguidas na própria estrada do Corumbé — e algumas ainda resistem, testemunhas silenciosas de um tempo em que Mauá começava a se tornar uma cidade industrial.

A Fábrica Grande encerrou suas atividades em 1954, dando lugar à Cerâmica Miranda Coelho, que funcionou até 1964. Mas sua história permanece viva nas memórias dos que ajudaram a moldar não apenas a argila, mas também os alicerces de Mauá.

Entre as ruas do Jardim Zaira, ainda se ouve o eco de um passado que construiu mais do que louças — construiu uma comunidade.

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