Aluísio Domingos dos Santos — O Pintor que Fez a Cor Dançar

Foi justamente ao misturar tintas no ofício de pintor que sua arte começou a ganhar forma. Autodidata, curioso e profundamente sensível, Aluísio experimentava tons, criava texturas, combinava cores como quem cria mundos. Dessa experimentação nasceu sua técnica singular, marcada por textura, profundidade e vibração — uma pintura que parecia respirar.

Aluísio Domingos dos Santos — O Pintor que Fez a Cor Dançar

Alguns artistas não passam apenas pela história:
eles a iluminam.
E, mesmo quando partem cedo, deixam um brilho que o tempo não apaga.
Aluísio Domingos dos Santos é um desses nomes que merecem ser lembrados, celebrados e preservados.

Nascido em Campina Grande, Paraíba, em 13 de abril de 1937, Aluísio cresceu cercado pela potência criativa do Nordeste. Desde menino moldava brinquedos de barro — um gesto simples que já anunciava o artista que viria a ser. Ainda jovem, viveu em Recife e, mais tarde, mudou-se para o Rio de Janeiro, onde trabalhou como office boy no Teatrinho de Bolso de Ipanema e pintor de paredes, trabalho herdado do pai.

Foi justamente ao misturar tintas no ofício de pintor que sua arte começou a ganhar forma. Autodidata, curioso e profundamente sensível, Aluísio experimentava tons, criava texturas, combinava cores como quem cria mundos. Dessa experimentação nasceu sua técnica singular, marcada por textura, profundidade e vibração — uma pintura que parecia respirar.

Usando massa corrida, lona de caminhão, madeira, eucatex, e o que mais estivesse ao alcance das mãos criativas, ele transformava materiais simples em suportes vivos. Sua então esposa, Diná dos Santos, descreveu sua inspiração como “uma composição com cores soltas formando ritmos musicais”. Essa frase resume o que Aluísio fazia: ele fazia a cor dançar.

Sua obra mergulhava nas temáticas africanas e afro-brasileiras, nas raízes, na ancestralidade, no corpo negro em movimento. Em Capoeira (1984), uma de suas obras mais expressivas, a vibração das cores e texturas revela o ritmo e a energia que eram sua marca.

A Chegada a Mauá

Nos anos 1970, em busca de novas oportunidades de trabalho e qualidade de vida para a família, Aluísio mudou-se para Mauá, cidade então em pleno crescimento urbano e industrial. Aqui, encontrou não apenas trabalho, mas também acolhimento e novos horizontes criativos.
Foi em Mauá que ele produziu parte significativa de suas obras, aprofundou sua pesquisa artística e estabeleceu vínculos culturais que marcariam sua trajetória.

A presença de Aluísio na cidade ampliou seu universo artístico: Mauá, com suas fábricas, suas cores, seus trabalhadores e sua vitalidade, tornou-se cenário e inspiração. Muitos moradores ainda lembram do artista caminhando com telas debaixo do braço, conversando sobre cor, técnica, cultura e música.

Legado e Memória

Apesar de obter admiração internacional, como tantos artistas negros, Aluísio enfrentou dificuldades para viver exclusivamente de sua arte. Seus registros são poucos, dispersos, e essa ausência não é coincidência: é reflexo do racismo estrutural que, por décadas, apagou a produção de inúmeros artistas negros no Brasil.

Em 3 de agosto de 1984, aos 47 anos, Aluísio faleceu após uma cirurgia para retirada de um coágulo no cérebro. Seu falecimento precoce interrompeu uma trajetória brilhante, mas não apagou sua luz.

Ainda em 1984, a Prefeitura de Mauá adquiriu parte de suas obras, hoje preservadas na Pinacoteca de Mauá, em uma homenagem necessária e merecida a este artista que marcou a história da arte brasileira e deixou rastros profundos na memória cultural da cidade.

Hoje, quando revisitamos sua obra, Mauá não apenas guarda suas telas.
Guarda seu ritmo, sua cor, sua força.
Guarda o legado de um artista que transformou vida em arte e arte em permanência.

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