Como Famílias Ganharam Muito Dinheiro em Mauá na Década de 1950 com a Venda de Loteamentos

Antes dos anos 1950, Mauá era formada por grandes chácaras e terrenos baratos. Com a chegada de trabalhadores de diversas regiões do país, atraídos pelas indústrias próximas e pela facilidade de transporte ferroviário, a região tornou-se ideal para loteamentos populares. Famílias que possuíam grandes áreas viram a oportunidade de dividir suas terras em centenas de lotes e vendê-los rapidamente.

Como Famílias Ganharam Muito Dinheiro em Mauá na Década de 1950 com a Venda de Loteamentos

Como famílias ganharam muito dinheiro em Mauá na década de 1950 com a venda de loteamentos — e como isso evoluiu até o Parque das Américas

A década de 1950 marcou um dos períodos de maior transformação urbana de Mauá. Em meio ao processo de industrialização crescente no ABC Paulista, famílias locais e empreendedores de outras regiões viram no território mauaense uma oportunidade altamente lucrativa: a venda de lotes a preços baixos para uma população que chegava em ritmo acelerado, impulsionada pela expansão das fábricas, pela migração e pela busca por moradia acessível.

O boom dos loteamentos na Mauá dos anos 1950

Naquele período, a cidade ainda não tinha a estrutura administrativa nem o planejamento urbano necessários para acompanhar o aumento populacional. Terrenos eram grandes, em sua maioria rurais ou pouco ocupados, e muitos proprietários decidiram dividi-los em pequenos lotes. A especulação imobiliária passou a fazer parte do cotidiano da cidade.

As vendas aconteciam de maneira simples: seringueiras marcavam a separação dos lotes, anúncios eram feitos em rádios locais, e as famílias podiam comprar terrenos com prestações simbólicas. Muitos loteamentos eram abertos sem infraestrutura mínima — sem água encanada, sem energia, sem pavimentação — mas atendiam a uma demanda crescente por moradia acessível. Famílias inteiras lucraram ampliando terras herdadas, loteando sítios e vendendo áreas que hoje compõem bairros consolidados.

A expansão urbana segue pelos anos seguintes

Mesmo após o crescimento dos anos 1950, Mauá continuou sendo um território fértil para novos loteamentos. A falta de moradias em regiões centrais da Grande São Paulo fez a cidade atrair famílias em busca de terrenos baratos. Nas décadas de 1960 e 1970, o processo se intensificou.

É nesse contexto que surge o loteamento do Parque América, um dos maiores e mais marcantes projetos de urbanização da cidade.

O Parque América: um loteamento gigantesco marcado por desafios

Loteado em 1979, o Parque América teve sua história acompanhada desde o início pelo Diário do Grande ABC, por motivos claros. Um deles era sua enorme extensão: mais de 3 milhões de metros quadrados, área comparável à de muitas cidades brasileiras de porte médio.

Além disso, o loteamento estava localizado em uma região classificada como área de mananciais desde 1976, o que já colocava o projeto sob atenção constante.

O Parque América foi dividido em três grandes glebas. As empresas responsáveis pelo empreendimento foram a JL Engenharia e a KL Empreendimentos, ligadas a dois nomes importantes da política mauaense: os ex-prefeitos Leonel Damo (JL) e José Carlos Grecco (KL).

Em 1983, o jornal registrou um episódio emblemático: um grupo de 30 mulheres foi até a Prefeitura de Mauá pedir ao então prefeito Leonel Damo melhorias básicas para o bairro recém-formado — guias, sarjetas, rede de água, esgoto e iluminação pública.

Infraestrutura lenta e a luta diária dos moradores

Outro fator complicador era a distância. O Parque América está localizado cerca de quatro quilômetros do Centro de Mauá, o que, na época, dificultava o acesso e a implementação de obras.

Em 1984, a energia elétrica ainda não existia em grande parte do bairro. Os moradores utilizavam lampiões, lamparinas e velas, e eletrodomésticos como geladeira, televisão e chuveiro elétrico eram impossíveis de instalar.

A rede de água só começou a ser instalada na década de 1990. Até então, a população recorria a poços rasos. Em 1994, o bairro já contava com cerca de 5 mil moradores, mas apenas uma rua era pavimentada: a Marechal Rondon. Na época, o Diário estampou a manchete “Lamaçal irrita moradores do Parque América”, destacando as dificuldades enfrentadas diariamente.

Havia também apenas um orelhão disponível para toda a comunidade. A situação era tão precária que os moradores contrataram um funcionário, Wagner Souza, para atender telefonemas e repassar recados às famílias durante o dia. Por causa das ruas sem pavimentação, o ônibus não conseguia chegar ao bairro, então o deslocamento até o Centro era ainda mais difícil.

Do improviso à consolidação

Assim como ocorrera nos anos 1950, quando loteamentos foram abertos sem infraestrutura, o Parque América também surgiu primeiro como promessa e só depois recebeu condições adequadas para a vida urbana — fruto de anos de reivindicações da população.

Hoje, o bairro é um dos mais populosos de Mauá e se consolidou como parte fundamental da expansão territorial da cidade. Sua história reflete o modelo de urbanização que marcou Mauá: loteamentos grandes, crescimento rápido e um longo caminho até a infraestrutura urbana.

Uma cidade moldada pelos loteamentos

Da explosão de vendas nos anos 1950 até os enormes empreendimentos das décadas seguintes, Mauá cresceu, sobretudo, pelo loteamento de suas terras. Famílias prosperaram, empresários se tornaram figuras influentes e bairros inteiros surgiram onde antes havia chácaras e pastos.

Entender essa história é essencial para compreender a própria formação urbana de Mauá — uma cidade construída lote a lote, sempre impulsionada pelo sonho da casa própria e pela força de seus moradores.

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