Paulista: as louças que moldaram a história de Mauá

A Fábrica Grande e a Fábrica Paulista transformaram o barro em arte e esperança, moldando não só louças, mas também o espírito trabalhador que ajudou a construir a alma da cidade. Instalada graças ao solo rico em argila e à presença da ferrovia, tornou-se símbolo do desenvolvimento local. Conduzida pela família Viola, a fábrica ajudou a moldar o crescimento econômico e a identidade da cidade.

Paulista: as louças que moldaram a história de Mauá

Em uma época em que Mauá ainda dava seus primeiros passos rumo à industrialização, um grupo de visionários decidiu transformar barro em arte. Assim nasceu a Fábrica de Louças Paulista, um dos nomes mais marcantes da memória mauaense.

A história começa em 1916, quando operários da primeira indústria de louças do Brasil — localizada em São Paulo — resolveram trilhar um novo caminho. Movidos pelo desejo de independência e com um capital modesto, Rogério Manetti, José Pedotti e Luiz Torighelli escolheram o então distrito de Pilar (atual Mauá) para construir uma pequena fábrica. O local? Uma antiga serraria às margens do Tamanduateí. O nome? Manetti Pedotti & Cia. Ltda. — que, com o tempo, se tornaria a famosa Paulista.

Nos primeiros anos, a produção era simples, mas cheia de criatividade. O primeiro produto fabricado foi um assobio de barro em formato de galo, sem acabamento. Logo depois, vieram as tigelinhas número 18, muito procuradas pelos colonos do interior paulista, que as usavam para tomar café.

Com o passar dos anos, a Paulista cresceu e ganhou novos sócios, entre eles o italiano Guido Monteggia, químico e gerente técnico que se tornaria o grande pilar da empresa. Ele chegou ao Brasil em 1913 e acompanhou de perto a expansão da fábrica, que chegou a empregar 80 trabalhadores e produzir centenas de artigos de cerâmica.

Em 1946, já consolidada, a empresa transformou-se em Cerâmica Mauá S/A, com capital de seis milhões de cruzeiros. Novos pavilhões foram erguidos, fornos modernizados e a produção disparou. A linha de fabricação incluía desde aparelhos de jantar e chá, tigelas e travessas, até peças sanitárias e refratárias. Eram mais de 800 produtos diferentes, feitos com técnica e paixão.

O ambiente de trabalho era familiar e acolhedor. Muitos operários dedicaram toda a vida à Paulista. Armando Scilla, por exemplo, começou jovem e permaneceu por 36 anos na empresa, passando por várias fases e transformações. Ele costumava dizer que Guido Monteggia era “o grande baluarte da firma”, um homem simples, competente e respeitado por todos.

Nos anos 1960, com as mudanças econômicas e a chegada de novas tecnologias, a velha Paulista começou a mudar de rumo. Em 1965, foi vendida e parte de suas atividades transferidas para o bairro Sertãozinho, então nascente polo industrial de Mauá. A marca foi absorvida pela multinacional H. K. Porte do Brasil, passando a produzir isoladores elétricos — e encerrando, assim, o ciclo das louças que encantaram gerações.

Mesmo com o passar do tempo, a lembrança da Fábrica Paulista continua viva na memória dos antigos trabalhadores e moradores. Muitos ainda recordam o velho tanque ao lado do rio Tamanduateí, que gerava energia elétrica para mover as máquinas — símbolo da engenhosidade e do espírito trabalhador que sempre caracterizou o povo de Mauá.

Hoje, as paredes que um dia abrigaram o calor dos fornos e o som das louças sendo moldadas já não existem mais. Mas a história da Paulista permanece como um marco do início da industrialização da cidade e do talento de quem acreditou que, com barro e dedicação, era possível construir um legado.

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