No coração de Mauá, a Praça 22 de Novembro é hoje um ponto de encontro, passagem e convivência. Contudo, por trás de sua paisagem urbana e do cotidiano agitado do centro, repousa uma das datas mais emblemáticas da história do município — 22 de novembro de 1953 —, quando o então distrito de Santo André decidiu, nas urnas, conquistar sua autonomia política e administrativa.
Naquele domingo histórico, 658 eleitores disseram “sim” à emancipação, sete foram contrários e apenas cinco votos foram nulos ou em branco. Um resultado que selou o desejo de independência de uma comunidade que, desde o início da década de 1940, lutava por reconhecimento e autogoverno.
O movimento emancipacionista mauaense foi inspirado por conquistas semelhantes de cidades vizinhas, como São Bernardo do Campo (1944) e São Caetano do Sul (1948). A partir daí, a ideia de libertar-se da tutela de Santo André ganhou força com o engajamento de lideranças locais, comerciantes, jornalistas, empresários e cidadãos comuns que sonhavam em ver Mauá crescer por suas próprias mãos.
Dois pilares foram essenciais nessa caminhada: a Sociedade Amigos do Distrito de Mauá, fundada em 1946, e o jornal Folha de Mauá, criado provavelmente em 1949. A sociedade reunia representantes de diferentes segmentos da comunidade e defendia melhorias locais, enquanto o jornal se tornou a principal voz do movimento, estimulando o debate público e fortalecendo o sentimento de pertencimento.
O jornal era dirigido por Anselmo Haraldt Walendy, também integrante da Comissão Pró-Emancipação de Mauá, formada em 1951 sob a liderança de Egmont Fink. Essa comissão foi a responsável por organizar o plebiscito, mobilizar a população e apresentar à Assembleia Legislativa do Estado de São Paulo o pedido oficial de emancipação, aprovado em abril de 1953.
O desfecho veio no fim daquele mesmo ano, com a Lei nº 2.456, de 30 de dezembro de 1953, que oficializou a criação do município de Mauá. A instalação definitiva da nova cidade ocorreu em 1º de janeiro de 1955, com a posse do primeiro prefeito, Ennio Brancalion, e de seu vice, Elio Bernardi, além dos 13 vereadores pioneiros — entre eles, o ex-soldado constitucionalista Jorge Paschoalick, primeiro presidente da Câmara Municipal.
Embora o aniversário da cidade seja celebrado em 8 de dezembro, em homenagem à padroeira Nossa Senhora da Imaculada Conceição, é o 22 de novembro que marca o verdadeiro nascimento da liberdade mauaense. Uma data que, mais do que um registro histórico, representa a vontade de um povo em decidir seu próprio destino.
Hoje, a Praça 22 de Novembro não é apenas um espaço urbano — é um símbolo de identidade, resistência e conquista. Relembrar sua importância é também preservar a memória de homens e mulheres que, movidos pela esperança, transformaram um distrito em uma cidade e um sonho em realidade.
Como afirmou Egmont Fink, presidente da Comissão Pró-Emancipação:
“A liberdade é um bem imaterial que só pode ser medido com sua própria medida; não a medimos em litros ou em quilos e não há vasilha capaz de a conter. Em geral, somente a ausência de liberdade é que nos permite avaliar o seu valor.”
A Praça 22 de Novembro, portanto, é mais do que um nome no mapa — é o marco permanente da liberdade de Mauá.